Cadernos de Ética e Filosofia Política, no. 27 (2015)
A teoria política de Schopenhauer parte de premissas próximas à teoria de Hobbes: o egoísmo e a competição levam à necessidade do contrato social para garantir a segurança na vida em sociedade. Embora seja constantemente comparado a Hobbes em sua descrição da natureza humana, Schopenhauer chegará a conclusões diametralmente opostas: afirmará a existência do direito natural para além do pacto social assim como o direito à propriedade independente do Estado. Este último, longe de assemelhar-se ao Leviatã hobbesiano, terá um papel bem limitado: apenas a garantia da lei e da segurança, sem interferir muito na vida dos indivíduos. Mesclando elementos liberais e conservadores, a teoria política de Schopenhauer está mais próxima da teoria de Locke do que daquela exposta pelo autor do De Cive. Tentarei desenvolver essa hipótese em minha comunicação.
Palavras-chave: individualismo – direito natural – propriedade – Estado – liberalismo
“Toda filosofia que acredita removido ou até mesmo solucionado, através de um acontecimento político, o problema da existência é uma filosofia de brinquedo e uma pseudofilosofia. Com muita freqüência, desde que há mundo, foram fundados Estados; isso é uma velha peça. Como poderia uma inovação política bastar para fazer dos homens, de uma vez por todas, habitantes satisfeitos da Terra? Mas se alguém acredita de todo coração que isso é possível, que se apresente: pois merece verdadeiramente tornar-se professor de filosofia em uma universidade…”
Nietzsche, Schopenhauer como educador
Como se sabe, as ideias políticas de Schopenhauer não ocupam um lugar central em sua filosofia moral em sentido amplo. Pelo contrário, elas são desenvolvidas de maneira cursiva, como se tivessem apenas a função de completar o edifício de um sistema ético que tem urgência em passar para questões mais relevantes. Certamente, isso se explica pela concepção que o filósofo tem sobre a tarefa da ética: não a busca prática do bem-estar compartilhado ou individual, nem a procura pela base moral das instituições políticas, mas o esclarecimento sobre o sentido metafísico do agir humano – a redenção por meio da negação da vontade de viver. Desse ponto de vista, Schopenhauer critica os filósofos de sua época (especialmente Hegel), que segundo sua visão teriam apresentado “o Estado como o fim supremo e a flor da existência humana, com o que oferecem uma apoteose do filisteísmo”. Contra isso, o filósofo argumenta para mostrar que a moralidade não depende da vida organizada politicamente, ao contrário, está para além dela:
Mais disparatado ainda é o teorema de que o Estado é condição da liberdade em sentido moral e, com isso, da moralidade. Em verdade, a liberdade se encontra além do fenômeno, para não dizer além das instituições humanas.
Para Schopenhauer a ética está orientada contra o egoísmo, seja aquele que tem em vista a felicidade individual (objeto da eudemonologia) ou aquele que busca as condições de possibilidade da coexistência de seres egoístas (a finalidade do Estado, a política). Por isso, tanto a eudemonologia quanto a política devem abrir espaço para o que é verdadeiramente essencial – a investigação sobre o significado moral das ações e sobre a possibilidade de redenção dos sofrimentos do mundo, ambas unicamente possíveis pela admissão de um ponto de vista que está para além do meramente empírico. Todavia, a acribia e a precisão com as quais Schopenhauer descreveu em suas obras tanto a “sabedoria de vida” quanto os conceitos básicos da política não permite que deixemos de lado esses aspectos de seu pensamento. Pelo contrário, ao que parece, são justamente esses os elementos de sua filosofia que despertam atualmente maior interesse, bem mais que sua soteriologia… [PDF]
schopenhauer foi um dos poucos filosofos que não é mundano. chega a ser patético hoje em dia como tem psicanalistas mundanos como pondé fazendo sucesso e tanta gente burra seguindo, a raça humana é estupida. schopenahuer foi melhor de todos por defender a misantropia, nenhum outro filosofo fez isso, nem cioran, embora cioran era o mais pessimista
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