A ideia do suicídio e a escritura filosófica como auto-análise
Perguntam-me: “Você está trabalhando? – Sim, num artigo sobre o suicídio.” – Minha resposta tira das pessoas a vontade de saber mais.[1]
Trata-se, por fim, do último desafio da lucidez: a permanência e a perseverança na vida quando esta é entendida como um “estado de não-suicídio”,[2] o que coloca a incompatibilidade entre lucidez e vida, e a impraticabilidade desta última do ponto de vista da lucidez cioraniana. A lucidez inverte a proporção de mistério e clareza entre a morte e a vida; não é aquela que provoca espanto e pavor, mas esta última:
É porque ela não repousa sobre nada, porque carece até mesmo da sombra de um argumento que perseveramos na vida. A morte é demasiado exata; todas as razões encontram-se de seu lado. Misteriosa para nossos instintos, delineia-se, ante nossa reflexão, límpida, sem prestígios e sem os falsos atrativos do desconhecido. De tanto acumular mistérios nulos e monopolizar o sem-sentido, a vida inspira mais pavor do que a morte: é ela a grande Desconhecida.[3]
No último capítulo da última parte, Fiore discute a relevância do tema do suicídio na obra de Cioran, o que evocaria certa cumplicidade entre o autor romeno e o autor do Mito de Sísifo (1942): “Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem depois.”[4] Cioran não poderia senão concordar com Camus, ainda que a sua compreensão do fenômeno do suicídio seja um tanto peculiar, diria mesmo original. Todas as razões levam para fora da vida, em direção à morte. A vida carece de argumentos, nenhuma razão encontra-se do seu lado. Nada justifica a anomalia de existir. E é por isto mesmo, paradoxalmente, que perseveramos nela, porque a vida acumula mistérios nulos e monopoliza o sem-sentido. Não corremos em direção à morte, nós fugimos instintivamente dessa “grande Desconhecida” que nos inspira mais pavor do que a morte.
Para Cioran, o suicídio é um auxiliar do homem, o maior e mais importante recurso de que dispõe esse animal enfermo de consciência. Todas as religiões, o cristianismo em primeiro lugar, condenam o suicídio, razão pela qual Cioran mantém-se equidistante, e crítico, de todas elas. Não o ato enquanto tal, mas a ideia do suicídio. “Só vivo porque posso morrer quando quiser: sem a ideia do suicídio já teria me matado há muito tempo.”[5] O homem não precisa tirar a própria vida, precisa apenas pensar que está livre para fazê-lo quando bem entender, que nada nem ninguém está em poder de impedi-lo, que ele é sumamente livre para fazê-lo: de golpe a vida torna-se imediatamente mais suportável, mais leve, menos opressiva, menos obrigatória. O suicídio é a suprema liberdade do homem, e nada – nenhuma autoridade, nenhuma heteronomia – pode privá-lo desse recurso, dessa saída de emergência em caso de incêndio.
Segundo Fiore, “Cioran confessa que, se não tivesse começado a escrever, teria provavelmente posto um fim aos seus dias. O suicídio será uma constante mórbida no seu pensamento, mesmo se o filósofo morrerá de morte natural.”[6] De fato, Cioran nunca (sic) se matou, antes viveu continuamente com a ideia de se matar, verdadeiro “excitante do espírito”, assim como a Miséria.[7] A propósito, Gabriel Liiceanu tece algumas considerações muito pertinentes ao meditar sobre a morte de Cioran:
À leitura de Cioran, observa-se a recorrência da palavra “morte” em suas obras. Pode-se então interrogar a que se parece o fim de um homem que durante toda sua vida falou do fim.
Assim colocada, essa questão parece bizarra, inclusive impertinente. Ela pressupõe, com efeito, que entre o exercício do pensamento da morte e a morte mesma estabelecer-se-ia um elo e que a morte de um homem deveria levar o caractere da forma pela qual ele não cessou de falar dela. Somos inclinados a pensar que alguém que, aos 22 anos, se considerava como “um especialista no problema da morte”, e que chegava a pensar na morte “inclusive almoçando”, não podia morrer como todo mundo. Ao cabo de uma meditação ininterrupta sobre a morte, a afrontaremos de mãos vazias? Um tal excesso de lucidez não dá o direito de viver a morte como soberano? De escolhê-la? O tema da morte está de tal modo ancorado na obra de Cioran que se queremos saber como ele morreu, é como se não fizéssemos uma questão puramente biográfica, mas antes buscássemos saber como se encerrou a sua obra.[8]
A observação de Liiceanu é certeira. A morte de Cioran se confunde com a maneira pela qual ele não cessou de ruminar o problema da morte, o único verdadeiro problema segundo o autor dos Silogismos da amargura, aquele que substitui todos os outros e faz da filosofia uma “ingênua crença na hierarquia das perplexidades”.[9] Com efeito, Cioran utilizou a ideia da morte a seu favor, a favor da vida, para intensificar essa “tentação de existir” que se confunde com uma “volúpia do desastre”.[10] Segundo Fiore, “a única razão pela qual o pensador romeno não pôs um fim a seus dias já nos tempos de universidade, foi porque encontrou no exercício da escrita uma verdadeira terapia”, ou, como diz o próprio autor, nos cumes do desespero, “uma salvação provisória das garras da morte”.[11] É certo, como afirma o exegeta, que Cioran não pensava propriamente em fazer uma obra, filosófica ou literária, quando escrevia, mas tão-somente registrar suas perplexidades e estremecimentos, ser o “secretário de suas sensações”, as quais terminava reunindo, organizando e publicando na forma de livros. “Isto explica”, escreve Fiore, “a presença de diversas repetições nos seus textos, e a reprodução de frases idênticas nas obras publicadas que já se encontram nos Cahiers.”[12]
E eis que essa obsessão, essa ruminação do essencial que é a Morte, à qual Cioran pretendeu dedicar “todas as horas que uma profissão teria exigido”,[13] vindo a especializar-se nela, representa o que a sua obra oferece de mais generoso, mais salutar. Não se trata, em absoluto, de morbidez, mas de uma preocupação, de uma obsessão perfeitamente natural, e “demasiado humana”. A verdadeira morbidez é apegar-se a todo custo, como um desequilibrado inconscientemente desesperado, à vida, recusando-se a aceitar sequer a ideia de que um dia terá que abandoná-la. “Existir é um jeito que não desespero de conseguir aprender”,[14] escreve Cioran em “A tentação de existir”, o último (e importantíssimo)[15] texto do livro homônimo, publicado em 1956, logo após o fiasco de crítica e de público dos Silogismos da amargura, o que levaria o autor romeno a pensar seriamente em desistir de escrever.
Não surpreende, portanto, que em vez de deprimir, debilitar, a leitura de Cioran provoque um efeito paradoxal: anima, tonifica, exalta, amiúde fazendo rir. É verdadeiramente um paradoxo, talvez o mais vistoso de todos no conjunto da obra cioraniana, essa pletora de paradoxos, este que há entre a obsessão (mórbida) da morte e o efeito salutar, vivificante, da leitura desse “especialista do problema da morte”. O teórico e advogado do suicídio nos impele a preservar, por uma louca paixão, nesse “estado de não-suicídio” que é a vida, a “grande Desconhecida”. Pois o dever da lucidez é tornar igualmente des-fascinantes a morte e a vida, reduzi-las a duas ninharias em relação às quais o Indiferente (e, portanto, equilibrado) permanece equidistante, igualmente desprendido. Quem oscila incuravelmente entre a vida e a morte, indeciso sobre qual delas é a melhor, são os otimistas, os que creem numa hierarquia das perplexidades, e na separação ontológica entre a vida e a morte, o ser e o não-ser… “Só se suicidam os otimistas, os otimistas que não conseguem mais sê-lo. Os outros, não tendo nenhuma razão para viver, por que a teriam para morrer?”[16]
Na entrevista a Fernando Savater, o amigo e filósofo espanhol diz a Cioran que “em todos os seus livros, ao lado do aspecto que poderíamos dizer pessimista, noir, brilha uma estranha allégresse, uma alegria inexplicável, mas reconfortante, e mesmo vivificante.” Ao que Cioran responde, explicando, na sua visão, esse paradoxo salutar, “terapêutico”, implicado na escrita/leitura da sua obra:
É curioso isso que você me diz, muitas pessoas me disseram. Eu não tenho muitos leitores, mas poderia citar inúmeras pessoas que recorreram, vez ou outra, aos meus conhecimentos: “Eu teria me suicidado se não tivesse lido Cioran.” Portanto, creio que tenha razão. Creio que isso venha da paixão: eu não sou pessimista, mas violento… é o que torna minha negação vivificante. De fato, quando falávamos agora há pouco de ferida [blessure], eu não considerava isso de modo negativo: ferir [blesser] alguém não significa de maneira alguma paralisá-lo! Meus livros não são nem depressivos nem deprimentes. Eu os escrevo com furor e paixão. Se meus livros pudessem ser escritos a frio, seria perigoso. Mas eu não posso escrever a frio, sou como um doente que, em toda circunstância, supera febrilmente sua enfermidade.[17]
Este efeito paradoxalmente salutar e vivificante não escapou a Vincenzo Fiore, que sublinha o fato de que envolve não apenas
Cioran enquanto autor, mas também parte de seus leitores. Entre os registros de testemunhos de pessoas que experimentaram uma verdadeira catarse filosófica graças à leitura das obras do pensador romeno, há o caso de uma moça libanesa que lia Cioran em meio aos bombardeios de Beirute, porque, naquela situação desastrosa, achava tônico o humour de Cioran, e ainda o de uma moça japonesa, convencida de matar-se, que mudou de ideia e deu início a uma correspondência epistolar com o seu “salvador”, após ter lido a sua obra.[18]
Cioran salva vidas, por incrível (e irônico) que isto possa soar. E o faz em virtude de sua “infernal sinceridade,” nas palavras de Vincenzo Fiore,[19] ou seja, essa ausência de boas maneiras, a exasperação de um homem franco e polidamente grosseiro, que não aceita mentir e faz-nos ver “a terra fugir sob nossos pés”, compreender que estamos “biologicamente obrigados ao falso”.[20] Mas ele sabe dosar a crueldade, essa generosidade do fel,[21] com a leveza e a graça do bom humor, de onde o recurso constante à zeflemea, essa derrisão tipicamente balcânica, equivalente romeno do Witz alemão. Com efeito, a importância da bufonaria, do riso, que em Cioran é um riso niilista, é crucial para captar a virtude terapêutica da sua obra, o seu caráter estimulante e vivificante. Cioran faz piada da própria tragédia, do inconveniente de ter nascido, leva com humor e altivez as razões mesmas que o fazem ser pessimista. Nada é definitivo neste mundo, nada é oficial, a começar pelas ideias, pelas teorias, pelas opiniões e pelas crenças. É preciso saber deslizar sobre a superfície fina de gelo do mundo das ideias, que é basicamente o “mundo” (o Umwelt) por excelência (simbólico, valorativo) que os homens se inventaram para habitar… É preciso ser um “experimentador”, um “degustador” (de abismos e cumes, das possibilidades e impossibilidades da existência e da inexistência, do absoluto ou do vazio): um Geniesser, como diz o próprio Cioran, empregando uma palavra alemã, na entrevista a Georg Capat Focke.[22]
Um aspecto importante dos exercícios cioranianos de desfascinação é a total incredulidade, a desconfiança radical em relação a todas as ideologias, todos os sistemas de crença e de explicação (pretensamente)[23] científica do fenômeno humano (sua origem, natureza, funcionamento): da teologia cristã à psicanálise, passando pelo hegelianismo e pelo marxismo. Fiore se detém especialmente sobre a antipatia irredutível de Cioran em relação à psicanálise freudiana, vista por ele como “o túmulo do herói”: “Mil anos de guerras consolidaram o Ocidente; um século de ‘psicologia’ pôs-lhe a corda no pescoço.”[24] “Não existe um método que forneça a chave dos mistérios psíquicos, portanto, a arte de ser psicólogo não se aprende, mas se vive e se experimenta. É preciso ser o próprio objeto de estudo.”[25] “‘O que é a verdade?’ é uma pergunta fundamental. Mas nada perto de: ‘Como suportar a vida?’ A qual por sua vez empalidece ao lado desta outra: ‘Como suportar-se?’ – Eis a pergunta capital à qual ninguém está à altura de nos dar uma resposta.”[26] Nenhuma explicação, nenhuma informação ou instrução que venha de fora pode servir-nos, oferecer-nos alguma ajuda: nem a religião, nem a filosofia, nem a psicanálise, nem Deus, nem o Diabo… São, todas elas, a psicanálise em primeiro lugar, vãs tentativas de dar um sentido (e uma finalidade) ao que não saberia possuir um: a Criação, o Homem, a História, enfim, tudo. Meditando sobre este que é o “animal indireto” por excelência, ele escreve:
Fica-se realmente desconcertado quando se pensa continuamente, com uma obsessão radical, que o homem existe, que é o que é – e que não pode ser diferente. Mas o que é, mil definições o denunciam e nenhuma se impõe: quanto mais arbitrárias são, mais válidas parecem. O absurdo mais etéreo e a banalidade mais pesada igualmente lhe convêm. A infinidade de seus atributos compõe o ser mais impreciso que possamos conceber. Enquanto que os animais vão diretamente a seu alvo, ele se perde em rodeios; é o animal indireto por excelência. Seus reflexos improváveis – de cujo relaxamento resulta a consciência – o transformam em um convalescente que aspira à doença. Nada nele é saudável, salvo o fato de tê-lo sido. […]
Desde Adão, todo o esforço dos homens tem sido por modificar o homem. As pretensões de reforma e de pedagogia, exercidas à custa dos dados irredutíveis, desnaturam o pensamento e falseiam seu devir. O conhecimento não tem inimigo mais encarniçado do que o instinto educador, otimista e virulento, ao qual os filósofos não saberiam escapar: como permaneceriam imunes os seus sistemas? Salvo o Irremediável, tudo é falso; falsa esta civilização que quer combatê-lo, falsas as verdades com as quais se arma.
À exceção dos céticos antigos e dos moralistas franceses, seria difícil citar um só espírito cujas teorias, secreta ou implicitamente, não tendam a moldar o homem. Mas este subsiste inalterado, embora tenha seguido o desfile de nobres preceitos, propostos à sua curiosidade, oferecidos ao seu ardor e ao seu deslumbramento. Enquanto que todos os seres têm seu lugar na natureza, ele continua sendo uma criatura metafisicamente divagante, perdida na Vida, insólita na Criação. Ninguém encontrou um propósito válido para a história; mas todo mundo propôs algum; e há um pulular de fins tão divergentes e fantasiosos que a ideia de finalidade se anulou e se desvanece como irrisório artigo do espírito.[27]
Segundo Fiore, “para além das críticas do filósofo à psicanálise, é interessante notar como o ‘caso Cioran’ tem sido examinado por especialistas das disciplinas neuropsiquiátricas, que não apenas entreviram na obra cioraniana ‘extraordinárias intuições psicopatológicas’, como descobriram nele novos sintomas negligenciados nas classificações do DSM IV e do ICD-10.”[28] O exegeta menciona especificamente o livro La depressione creativa di E. Cioran, de Raffaello Vizioli e Lucia Orazi (2002). Assim, acrescenta ele, “a condição de tragicidade própria do ser humano, entendida como conclusão do pensamento de Cioran, teria dado lugar, como uma espécie de reação voltada a suportar a vida, a uma verdadeira atividade criativa que permitiu ao filósofo não por um fim à sua vida.”[29] Escrever, como bem assinala Fiore, é a melhor alternativa às farmácias, esses templos da saúde superficial, que não vendem “nada específico contra a existência; só pequenos remédios para os fanfarrões. Mas onde está o antídoto do desespero claro, infinitamente articulado, orgulhoso e seguro?” A escrita, ela sim, oferece-se como um “santo remédio” contra o mal de existir e de ser o que se é, como antídoto prodigioso do “desespero claro, infinitamente articulado, orgulhoso e seguro”… “Quanto mais o tempo nos lesou, mais lhe queremos escapar. Escrever uma página sem defeitos, ou apenas uma frase, eleva-vos acima do futuro e das suas corrupções. Transcendemos a morte recorrendo à procura do indestrutível através do verbo, através do próprio símbolo da caducidade”, escreve o autor do Inconveniente de ter nascido.[30] Este bendito remédio – a escrita como terapia, verdadeiro pharmakon – não se compra nem se prescreve, como tampouco pode ser assimilado de fora…
O remédio para nossos males é em nós mesmos que devemos buscá-lo, no princípio intemporal de nossa natureza. Se a irrealidade de tal princípio fosse demonstrada, provada, estaríamos irremediavelmente perdidos. Que demonstração, que prova contudo poderiam prevalecer contra a convicção íntima, apaixonada, de que uma parte de nós escapa à duração, contra a irrupção desses instantes em que Deus é supérfluo ante uma claridade surgida subitamente de nossos confins, beatitude que nos projeta para longe de nós mesmos, comoção exterior ao universo? Não há mais passado, nem futuro; os séculos se desvanecem, a matéria abdica, as trevas se esgotam; a morte parece ridícula, e também a própria vida. E essa comoção, mesmo que só a tivéssemos sentido uma vez, bastaria para nos reconciliar com nossas vergonhas e com nossas misérias, das quais ela é sem dúvida a recompensa. É como se o tempo em sua totalidade tivesse vindo nos visitar, uma última vez, antes de desaparecer… É inútil remontar depois ao antigo paraíso ou correr em direção ao futuro: um é inacessível; o outro, irrealizável. O que importa, ao contrário, é interiorizar a nostalgia ou a espera, necessariamente frustradas quando se voltam para o exterior, e obrigá-las a descobrir ou a criar em nós a felicidade da qual, respectivamente, sentimos nostalgia ou esperança. Só há paraíso no mais profundo de nosso ser, e como que no eu do eu; ainda é preciso, para encontrá-lo aí, ter recorrido a todos os paraísos, desaparecidos e possíveis, tê-los amado e detestado com a rudeza do fanatismo, tê-los escrutado e rejeitado depois com a competência da decepção.[31]
São Paulo, 25 de agosto de 2019
NOTAS:
[1] IDEM, Cahiers : 1957-1972, p. 511.
[2] IDEM, Breviário de decomposição, p. 27.
[3] Ibid., p. 18.
[4] CAMUS, Albert, O mito de Sísifo. Trad. de Ari Roitman e Paulina Watch. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2012, p. 17.
[5] CIORAN, E.M., Silogismos da amargura, p. 56.
[6] FIORE, Vincenzo, Op. cit., p. 144.
[7] CIORAN, E.M., “A miséria: excitante do espírito”, Breviário de decomposição, p. 162.
[8] LIICEANU, Gabriel, « La mort de Cioran », Itinéraires d’une vie : E. M. Cioran, p. 207-8.
[9] CIORAN, E.M., Silogismos da amargura, p. 28.
[10] Título do livro de Ricardo Gil Soeiro, A volúpia do desastre: notas soltas para Cioran (Lisboa, Labirinto, 2019).
[11] “Após termos alcançado os limites da vida, após termos vivido com exaspero todo o potencial desses perigosos confins, as ações e os gestos cotidianos perdem toda graça e sedução. Se continuamos vivos, é graças à escrita, que, por meio da objetivação, ameniza essa tensão infinita. Criar significa salvar-se provisoriamente das garras da morte.” CIORAN, Emil, Nos cumes do desespero, p. 21.
[12] FIORE, Vincenzo, Op. cit., p. 146.
[13] CIORAN, E.M., Silogismos da amargura, p. 43.
[14] “Por comparação com o hábito quotidiano do não-ser, que milagre o ser! É o inaudito, o que não pode acontecer, um estado de excepção. Nada tem poder sobre ele, salvo o nosso desejo de o alcançarmos, de nele forçarmos a entrada, de o tomarmos de assalto. Existir é um jeito que não desespero de conseguir aprender.” IDEM, A tentação de existir, p. 181.
[15] Importante porque emblemático, a título de síntese, de toda uma dialética paradoxal da vida e da morte, do ser e do não-ser, da existência e da inexistência, que já se encontra presente, ainda que de forma rudimentar, em Nos cumes do desespero. Assim termina o último texto de A tentação de existir: “Depois de termos feito da morte uma afirmação da vida, convertido o seu abismo numa ficção salutar, esgotados os nossos argumentos contra a evidência, ronda-nos o maramos: é a desforra da nossa bílis, da nossa natureza, desse demónio do bom senso que, quebrado por um tempo, volta a acordar para denunciar a inépcia e o ridículo da nossa vontade de cegueira. Todo um passado de visão impiedosa, de cumplicidade com a própria perda, de habituação ao veneno das verdades – e tantos anos gastos a contemplar os nossos restos, tentando extrair deles o princípio do nosso saber! Porém, devemos aprender a pensar contra as nossas dúvidas e contra as nossas certezas, contra os nossos humores omniscientes; devemos, sobretudo, forjando uma outra morte, uma morte incompatível com os nossos cadáveres, aceitar o indemonstrável, a ideia de alguma coisa existe… O Nada era, sem dúvida, mais cómodo. Como é difícil dissolver-se no Ser!” Ibid., p. 185.
[16] IDEM, Silogismos da amargura, p. 68.
[17] IDEM, Entretiens, p. 21-2.
[18] FIORE, Vincenzo, Op. cit., p. 148.
[19] Na entrevista concedida ao Portal E.M. Cioran/Br: “Cioran, a filosofia como desfascinação e a escrita como terapia”: entrevista com Vincenzo Fiore, 17 ago. 2019. Disponível em: <https://emcioranbr.org/2019/08/17/entrevista-vincenzo-fiore/> Acesso em: 25 ago. 2019.
[20] CIORAN, E.M., “O autômato”, Breviário de decomposição, p. 110-1.
[21] “Se Nietzsche, Proust, Baudelaire ou Rimbaud sobrevivem às flutuações da moda, devem isso à gratuidade de sua crueldade, à sua cirurgia demoníaca, à generosidade de seu fel. O que faz durar uma obra, o que a impede de envelhecer é sua ferocidade. Afirmação gratuita? Considere o prestígio do Evangelho, livro agressivo, livro venenoso entre todos.” IDEM, Silogismos da amargura, p. 17.
[22] “Assim como eu não sou pessimista, mas antes, como dizê-lo, um… consommateur (Geniesser). À minha maneira, eu suporto bem a vida. Mas por outro lado sou perseguido pelo sentimento do provisório, da maldição, da condenação, do fim que se aproxima.” IDEM, Entretiens, p. 252-3.
[23] Digo pretensamente para distinguir entre ciências naturais e positivas, de um lado, e as ciências humanas (Geisteswissenschaften), de outro, entre elas, a psicanálise.
[24] CIORAN, E.M., Silogismos da amargura, p. 48.
[25] FIORE, Vincenzo, Op. cit., p. 150.
[26] CIORAN, E.M., Écartèlement, in : Œuvres, p. 1483.
[27] IDEM, Breviário de decomposição, p. 32-3.
[28] FIORE, Vincenzo, Op. cit., p. 151-2.
[29] Ibid., p. 152.
[30] CIORAN, E.M., Do inconveniente de ter nascido, p. 34.
[31] IDEM, História e utopia, p. 126-7.