A diferença entre místicos e santos. Os primeiros se limitam à visão interior; os últimos a realizam na prática. A santidade extrai da mística suas consequências, especialmente as éticas. Um santo é um místico; um místico pode não ser um santo. A caridade não é necessariamente um atributo da mística; sem ela, contudo, não se pode conceber a santidade. A mística e a ética, transpostas a um plano suprahumano, dão nascimento ao inquietante fenômeno da santidade. Os místicos se comprazem numa sensualidade celestial, nas voluptuosidades que acompanham sua relação com os céus; só os santos assumem a carga dos outros, os sofrimentos alheios, e só eles intervêm praticamente. Frente ao místico puro, o santo é um homem político. Ao lado deste, é o mais ativo dos homens. Que as agitadas vidas dos santos não sejam propriamente biografias, explica-o o fato de que sua atividade se desenvolve numa única direção; variações sobre um mesmo motivo, paixão absoluta em uma única dimensão.
CIORAN, Emil, Lágrimas y santos. Trad. de Christian Santacroce. Madrid: Hermida, 2017.