A Negativa de Procriar e outros textos: Manifesto Gnóstico-Antinatalista

Se o mundo per se já oferece muitas razões para pessimismo, um mundo de Bolsonaros, Trumps e Orbans e Putins só faz confirmar o “élan em direção ao pior” que arrasta a História, esse “antídoto contra a utopia”. “A história, espaço onde realizamos o contrário de nossas aspirações, onde as desfiguramos sem cessar, não é, evidentemente, de essência angélica. Ao considerá-la, só concebemos um desejo: promover a agrura à dignidade de uma gnose.” (História e utopia)

Bolsonarismo é sinônimo de falso moralismo e hipocrisia, pedantismo, chauvinismo e populismo, tanatopolítica, milicianismo e fanatismo. Vivemos um apocalipse zumbi! O Brasil bolsomionion é um enorme desafio à lucidez (princípio de antifanatismo). E uma exortação ao antinatalismo

Mas, o que é “antinatalismo”? Antes de ser um “ismo”, um rótulo, um slogan, uma ideologia militante ou uma moda passageira, pode ser entendido filosoficamente como o desdobramento natural, no animal racional, do horror diante da existência e do mal que lhe é inerente. É uma filosofia, uma ética, um espírito; a última (ou primeira) recusa, o “imperativo categórico” próprio do filósofo pessimista: a “negativa de procriar” (Breviário de decomposição).

Desde a Antiguidade, ideias e costumes “antinatalistas” podem ser encontrados, ao longo da história, nos mais diversos povos e culturas. Cioran é um legítimo herdeiro de alguns deles:

“Trácios e bogomilos: não posso esquecer que frequentei as mesmas paragens que eles, que uns choravam pelos recém-nascidos e que os outros, para inocentar Deus, responsabilizavam Satã pela infâmia da Criação.” (Do inconveniente de ter nascido)

Do inconveniente de ter nascido

“Antinatalismo”, ou (bio)ética negativa, é a consequência lógica de um pessimismo que é (muito mais que histórico, político, contingencial) metafísico, antropológico e ontológico. Assim como a morte e o suicídio são objetos de intermináveis debates ético-políticos, a procriação e o nascimento deveriam também ser problematizados como atos morais (ou imorais, na perspectiva do filósofo antinatalista). Para os natalistas (99,99% da humanidade), a vida é um bem necessário e inquestionável; o antinatalista questiona este axioma vital, razão pela qual sua ética negativa é não apenas crítica, mas desestabilizadora dos princípios e fundamentos mais arraigados em nossa psique. Para o proponente da ética negativa, devemos levar em conta o “ponto de vista externo”, do não nascido, e concluir que, na dúvida, é melhor não ser do que ser.

O que sai na mídia sobre o tema do “antinatalismo” é uma piada, via de regra superficial, reducionista e sensacionalista. Os próprios filósofos, à medida de seu moralismo atávico, contribuem para distorcer e mistificar a ideia.

Para uma compreensão séria do antinatalismo, cf. “BioÉtica Radical” (2018), por Julio Cabrera.

Vídeo-ensaio composto com textos e aforismos dos seguintes livros:

• Breviário de decomposição (1949)
• Silogismos da amargura (1952)
• História e utopia (1960)
• La chute dans le temps (1964)
• Le mauvais démiurge (1969)
• Do inconveniente de ter nascido (1973)
• Écartèlement (1979)

Trilha sonora:

• 2 Hours of Hypnotic Shamanic Meditation Music – Healing Music for the Soul, Tuvan Chakra Cleansing | https://www.youtube.com/watch?v=Pj4q0…
• “Le Bouvier” – Hino dos Cátaros / Cathar Hymn | https://www.youtube.com/watch?v=OecY9…
• “El Paraiso Mas Fragante” – Consolament Ensemble | https://www.youtube.com/watch?v=8ors-…
• Delirium Cordia” (audioclip) – Fantômas (Ipecac, 2004) | https://www.youtube.com/watch?v=aYyqK…

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