“Pesquisador americano analisa doutrina ideológica que une ‘gurus’ de governos do Brasil, EUA e Rússia” – Ciro Barros

A Pública, 29 de junho de 2020

Segundo Benjamin Teitelbaum, da Universidade do Colorado, Olavo de Carvalho, no Brasil, Aleksandr Dugin, na Rússia, e Steve Bannon, nos EUA, são adeptos do tradicionalismo, “a completa rejeição política, ideológica e espiritual do status quo”

Há um paralelo a ser feito entre os governos de Rússia, Estados Unidos e Brasil, segundo o pesquisador Benjamin Teitelbaum, professor assistente da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos. Os três governos são influenciados e abrigam quadros políticos ligados a três intelectuais que exercem influência externa nas instituições governamentais: Steve Bannon, nos EUA; Aleksandr Dugin, na Rússia, e Olavo de Carvalho, no Brasil. Há ainda, de acordo com Teitelbaum, apesar de terem atuações e métodos distintos, uma linha em comum entre esses pensadores, que foram entrevistados no livro: os três são influenciados por uma tradição intelectual chamada tradicionalismo. É o que ele argumenta em seu novo livro War for eternity: inside Bannon’s far-right circle of global power brokers (“Guerra pela eternidade: dentro do círculo de influenciadores políticos globais de Bannon”, numa tradução livre) — lançado em abril, ainda não há uma tradução brasileira.

O tradicionalismo, segundo Teitelbaum, é uma doutrina complexa que reúne princípios em comum. Um de seus pilares é um olhar crítico à modernidade, no sentido dado ao termo por historiadores e cientistas sociais, como um período histórico e método de organização da vida social que incluem traços como o declínio da influência religiosa nas instituições diante da razão e à ciência, o declínio do simbolismo e da espiritualidade ante o materialismo, a organização social e política em torno de agrupamentos cada vez maiores, como Estados nacionais e, posteriormente, organizações supranacionais (batizadas de “globalistas”), o que leva, no olhar dos tradicionalistas, a uma padronização da vida social. Há, também, a crença de que a história corre de maneira cíclica e de que é necessário engajar-se numa “batalha espiritual” para restaurar os valores morais da sociedade, já que vivemos em um tempo de declínio moral.

Em seu livro, o pesquisador se debruça sobre a interpretação própria que esses ideólogos dos governos de Brasil, Rússia e Estados Unidos fizeram do tradicionalismo. Teitelbaum aponta filósofos esotéricos como o francês René Guénon e o italiano Julius Évola como grandes estruturadores do tradicionalismo, mas realça que nem todos os personagens de seu livro professam a doutrina integralmente (Olavo, por exemplo, critica a visão cíclica da história).

Esses princípios, no entanto, podem assumir diferentes identidades como discurso político nos dias de hoje. A doutrina foi adotada, por exemplo, por influenciadores de políticos europeus que se opõem firmemente à imigração de refugiados à Europa, como é o caso do historiador húngaro Gábor Vona, que até 2018 foi o principal ideólogo do Jobbik, partido de extrema direita europeu que está à direita do atual primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. Mas também, segundo Teitelbaum, o tradicionalismo pode ser “anticapitalista, por exemplo, e pode ser anticristão. Condena o Estado nacional como uma construção modernista e celebra aspectos do Islã e do Oriente de maneira geral. Soa de direita?”, pergunta Teitelbaum em seu livro.

Na entrevista a seguir, realizada por email, ele analisa a influência de Olavo nos ministérios da Educação e das Relações Exteriores, a relação entre o chamado populismo de direita e o tradicionalismo e alerta para a oportunidade trazida pela Covid-19 para seus ideólogos engajarem-se no combate às instituições supranacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS)… [+]

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