Quem vive duas ou três gerações se sente como o espectador que, durante a feira, vê as performances de todos os tipos de malabaristas e, se ficar sentado na cabine, as vê repetidas duas ou três vezes. Como os truques se destinavam apenas a uma apresentação, eles não causam mais qualquer impressão depois do desaparecimento da ilusão e da novidade.
SCHOPENHAUER, Parerga und Paralipomena, vol. I, § 156
Cabe a Schopenhauer ter descrito de maneira sistemática uma experiência humana fundada sobre o princípio da “má” diferença. Da filosofia de Schopenhauer inteira, pode-se dizer que é uma filosofia de repetição-lugar-comum. A repetição foi o grande pensamento, a grande obsessão de Schopenhauer, muito mais que o pessimismo, a moral de renúncia, a estética de contemplação, que são dela derivados. A prova é que Freud, quando empreendeu estudar as com pulsões de repetição e o instinto de morte, começou ao mesmo tempo a se interessar pela obra de Schopenhauer. Com efeito, o caráter maior da vontade schopenhaueriana não é “querer” (a vontade não quer nunca o que ela quer, mas o que sofre) mas repetir.
CL. ROSSET, Lógica do Pior