“O Niilismo, de Franco Volpi” (resenha) – Cláudia Bhrenna Falcão Castro

Cadernos do PET Filosofia – UFPI. v. 5, n. 9 (2014). 2014 (Resenha).

Franco Volpi foi um filósofo italiano e professor de História da Filosofia da Universidade de Pádua. Também lecionou em universidades da Europa, Canadá e América Latina. Publicou obras como “Heidegger e Brentano” (1976), “O Renascimento da Filosofia Prática na Alemanha” (1980), “Heidegger e Aristóteles” (1984), “Dicionário de Trabalhos Filosóficos” (2000), entre outros.

“O Niilismo” foi publicado pela primeira vez em 1996, em Roma, e posteriormente traduzido para várias línguas. Nesta obra, Volpi quis apresentar, ao longo dos quinze capítulos, um itinerário da história do conceito e do problema do niilismo.

No primeiro capítulo, intitulado Itinerarium Mentis In Nihilum, o autor remonta ao final do século XVIII e início do século XIX, quando a palavra aparece em meio às controvérsias que marcaram o nascimento do idealismo alemão. À palavra “Niilismo” associa-se o rompimento de valores e conceitos tradicionais. No século XX, apresenta-se como “expressão de esforços artísticos, literários e filosóficos voltados para a experimentação do poder do negativo e para a vivência de suas conseqüências” (pág. 7), trazendo “à luz o profundo mal-estar que abre como rachadura a autocompreensão de nosso tempo” (pág. 7). Nietzsche aparece como o primeiro grande profeta e teórico do Niilismo.

Embora o autor considere Górgias o primeiro niilista ocidental, e apresente outros tantos filósofos como verdadeiramente importantes nessa ordem de idéias; como Fridegísio de Tours, com seu De substantia nihili et tenebrarum, Charles de Bovelles, no seu Liber de nihilo, Leopardi, com sua tese inscrita no Zibaldone, entre outros.

O capítulo seguinte, Turgueniev e sua pretensa paternidade, ocupa-se de expor a reivindicação do escritor russo, autor de Pais e Filhos (1862), pela criação do termo niilismo. O icônico Bazarov seria, segundo Turgueniev, o representante deste movimento. No entanto, como demonstra a reconstrução histórica do niilismo, o termo já fora empregado antes na própria Rússia, e fora dela, por N. I. Nadezdin, em 1829, no artigo “A reunião niilista”; e também por M. N. Katkov, na revista O Contemporâneo. Mas, Volpi assinala, embora Turgueniev não seja o pai do termo, a ele deve-se a sua popularização, haja vista a polêmica que o autor esteve submetido depois da publicação de Pais e Filhos.

No capítulo três, Niilismo, romantismo, idealismo, o autor remonta aos primeiros filósofos que usaram do termo niilismo, e suas diferentes aplicações. Aparecem neste capítulo pensadores das mais diferentes abordagens: Santo Agostinho, Valter de São Vítor, Goetzius, Pascal, Jacobi, Jean Paul, Friedrich Schlegel, expoentes do idealismo alemão, como Fichte, Schelling, Hegel etc. Fica claro, após a apresentação desses autores, o deslocamento em que o sentido da palavra “niilismo” assumiu em vários momentos do pensamento filosófico.

No capítulo O niilismo no sentido social e político e sua origem francesa, Franco Volpi apresenta o emprego do termo “niilismo” como categoria de análise de crítica social empregado por autores hostis ao iluminismo e à Revolução Francesa.

O capítulo seguinte, O niilismo sem fundamento de Max Stirner, dirige atenção à primeira teorização autêntica de uma posição filosófica que pôde ser definida como niilismo, ainda que o uso do conceito tenha sido omitido. Stirner, na sua obra principal, O único e sua propriedade, pretende “pôr abaixo todos os sistemas filosóficos, toda e qualquer abstração ou idéia, tudo, enfim, que se arrogue a impossível tarefa de exprimir a ‘indizibilidade’ do único” (pág. 33).

No capítulo seis, Niilismo, anarquismo e populismo no pensamento russo, Volpi observa que a agitação social e a atmosfera cultural do final do século XIX na Rússia inflamou a juventude e produziu um movimento de rebelião social e ideológica que extrapolou o âmbito dos debates filosóficos e permeou toda a conjuntura social. Autores como Pisarev, Turgueniev, Tchernychevski, Bakunin, Herzen, Dostoievski, com visões divergentes, influenciaram e inspiraram decisivamente o cenário da Rússia, e, posteriormente, do ocidente. O niilismo transpõe a teorização e passa, também, a ser movimento revolucionário.

Em Niilismo e decadência em Nietzsche, é exposta a reflexão filosófica do “profeta máximo e teórico maior do niilismo” (pág. 43). Neste capítulo é apresentado desde a primeira anotação da palavra “niilismo” feita por Nietzsche, no verão de 1880, até suas conclusões conceituais, ao final da vida. Mistura-se à história do filósofo alemão sua filosofia. A influência de Schopenhauer, Julius Bahnsen, Mailänder, Eduard Von Hartmann, Dostoievski, Paul Borget é acentuadamente destacada e a construção do percurso do niilismo é didaticamente refeito… [PDF]

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