O Que Nos Faz Pensar, [S.l.], v. 20, n. 30, p. 176-194, dec. 2011. ISSN 0104-6675.
Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar as relações entre o ceticismo montaigniano e o ceticismo acadêmico, a partir do ensaio “Dos Coxos”. Pretendemos evidenciar que a presença de elementos tipicamente acadêmicos neste ensaio não caracteriza uma modificação substantiva em relação ao ceticismo de Montaigne, cujos traços essenciais permanecem ainda pirrônicos. Ao contrário, interessa-nos mostrar que convivem neste ceticismo valores e formulações destas duas versões do ceticismo antigo, na maneira como associa de forma consistente tanto a dúvida pirrônica quanto o preceito da integridade intelectual acadêmico. Partiremos das considerações avançadas por Pascal no fragmento 98 dos Pensamentos, pois elas nos permitem apurar o sentido da metáfora utilizada por Montaigne para dar título ao seu ensaio, metáfora esta que nos ajuda apreender a problemática que orienta este ensaio como um todo coerente e ilustrativo de uma apropriação singular das referidas versões do ceticismo antigo. Por fim, admitindo que a metáfora do coxo refere-se ao homem decaído, seguindo a sugestão de Pascal, avançaremos algumas considerações acerca do fideísmo em Montaigne.
Palavras-chave: Michel de Montaigne; ceticismo renascentista; fideísmo; Blaise Pascal.
Resumé: Le présent article a comme sujet l’analyse des relations entre le scepticisme montaignien et le scepticisme académique, a partir de l´essai ‘Des Boîteux’. Nous envisageons mettre en évidence que la présence des éléments typiquement académiques dans cet essai ne caractérise pas une modification substantive par rapport le scepticisme de Montaigne, dont les traces essentielles restent pyrrhoniennes. Au contraire, nous intéressons à montrer qui cohabitent dans ce scepticisme des valeurs et formulations de ces deux branches du scepticisme antique, dans une association harmonique entre le doute pyrrhonienne et le précepte de l’intégrité intelectuelle académique. Nous partirons des considérations avancées par Pascal dans le fragment 98 des Pensées, puis elles nos permettent délimiter le sens de la métaphore utilisée par Montaigne pour donner le titre a son essai, métaphore qui nous aide aussi a appréhender le problematique qui oriente cet essai comme un tout cohérent et illustratif d´une appropriation singulière des deux branches du scepticisme antique. Finalement, en admettant que la métaphore des boîteux désigne l´homme déchu, selon la suggestion de Pascal, nous avancerons quelques remarques sur le fidèísme de Montaigne.
Mots-clés: Michel de Montaigne; renaissance scepticisme; fidéisme; Blaise Pascal.