O ʺNotíciasʺ Ilustrado, 14 de abril de 1929, p. 14.
O fado será ou não uma canção nacional? — os seus intuitos são moralisadores, ou pelo contrario antingirão uma feição dissolvente? — ha vantagem em dar ao fado o desenvolvimento necessario a elege-lo como uma especialisação artistica, etnica, ou musical? — turistico, poetico, saudosista, invocativo, regional, representa o fado uma expressão de beleza, de propaganda, de atração nacional?
Teem a palavra, escriptores e artistas:
Toda a poesia ― e a canção é uma poesia ajudada ― reflete o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre, e a canção dos povos alegres é triste.
O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episodio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar.
As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade propria, porque ela não existe.
O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e tambem o abandonou.
No fado os Deuses regressam legitimos e longinquos. É, êsse o segundo sentido da figura de El-Rei D. Sebastião.
Fernando Pessoa