“As atrocidades do antissemitismo nazista na Romênia sob o olhar de um garoto” – Gabriel de SÁ

National Geographic Brasil, 4 de setembro de 2019

“Só não morri em Auschwitz por que uma tempestade de neve não me deixou embarcar para lá”, conta Joshua Strul, sobrevivente do Holocausto radicado no Brasil.

Faltou muito pouco para que o romeno Joshua Strul e a família fossem deportados para o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, em 1942. Eles viviam em um gueto para judeus na cidade de Bacău, Romênia, e, quando apresentaram-se às autoridades nazistas, uma tempestade de neve impediu que os funcionários da ferrovia engatassem os vagões para a embarcação. “Eu sobrevivi ao Holocausto por milagre divino”, diz ele, que tinha 9 anos. Joshua não esteve em campo de concentração, mas é um retrato vivo de como o antissemitismo nazista destruiu a vida de milhões de famílias judias na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.

Aos 86, Joshua Strul insiste em não esquecer as atrocidades do que ouviu e viveu. Com o mesmo pavor daquele garoto de 9 anos que viu o irmão caçula morrer de fome, ele guardou os relatos aterrorizantes dos homens que voltaram à Romênia quando a guerra acabou, em 1945. Eles contavam histórias reais sobre crianças enviadas diretamente para câmaras de gás letal, mulheres que morreram de pé em vagões de gado e corpos anônimos cremados para serem transformados em sabão.

Joshua havia retirado um dente no dia anterior à entrevista para a National Geographic Brasil e recebera recomendações para evitar falar. Contudo, deu de ombros para a ordem médica e, no Clube Hebraica, em São Paulo, onde recebeu a reportagem, cumprimentou alegremente todos os conhecidos com quem cruzou. Em uma tarde fria, porém ensolarada de agosto, o senhor romeno convidou-nos a adentrar a silenciosa sinagoga do local. Vestindo um quipá, espécie de chapéu usado pelos judeus, narrou por duas horas a trajetória da família Strul, que comeu grama frita para não morrer de fome, não se adaptou ao então recém-criado estado de Israel e resolveu recomeçar a vida em São Paulo.

Em 1930, a Romênia tinha cerca de 728 mil judeus, ou 4% da população. Apesar de relativamente pequena, a comunidade judaica era malvista, e sofria com a perseguição da Guarda de Ferro, movimento político de ideais fascistas que tomou forma no país em 1927, com Corneliu Codreanu à frente. Neste contexto, uma aliança de extrema direita levou ao poder, como primeiro-ministro da Romênia, em 1940, o general Ion Antonescu, notável antissemita.

Ele governou o país entre setembro de 1940 e agosto de 1944. Com Antonescu no comando, a Romênia aliou-se aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) em 20 de novembro de 1940. A Segunda Guerra Mundial foi iniciada formalmente com a invasão da Polônia pela Alemanha nazista em 1º de setembro de 1939, há 80 anos… [+]

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