“«O Livro das Ilusões», de Cioran, lido por Mihail Sebastian: o estranho caso do «convalescente que aspira à doença»” – Rodrigo MENEZES

De suas primeiras obras, ainda mal conhecidas entre nós, sublinho O livro das ilusões (Cartea amăgirilor), a que daria o subtítulo de um de seus capítulos: Mozart e a melancolia dos anjos. Considero aquelas páginas uma fantasia para cordas, como se fosse o primo consanguíneo de A origem da tragédia, nas grandes linhas melódicas que unem e separam as partituras dessas obras solitárias. […] O livro das ilusões é aquele onde se define sua linguagem madura: as síncopes ou staccati de tirar o fôlego, os oximoros de alto impacto conceitual e as constelações de fragmentos, iluminados por suas virtudes potenciais. Um livro dolorosamente arrebatado, com a melodia-pensamento pautada da primeira à última frase na poesia de Eminescu.

Marco Lucchesi, “Da dissolução“, Revista Filosofia – Ciência & Vidan. 161, abril 2020. Texto originariamente publicado no livro Carteiro Imaterial. Editora José Olympio, Rio de Janeiro.

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A resenha de Mihail Sebastian, publicada na revista romena Rampa, em 13 de junho de 1936, por ocasião do lançamento de Cartea amăgirilor,[1] parece antever os desdobramentos literários e impasses ulteriores do pensamento de Cioran, uma vez expatriado, além de prefigurar algumas das críticas mais veementes feitas à obra francesa do autor romeno (como as de Pierre-Henri Simon,[2] George Steiner,[3] inclusive o “fogo amigo”[4] de Clément Rosset, entre outras).

Sebastian aplica ao jovem Cioran uma categoria psicológica que este formulará posteriormente, já na França, ao falar de suas predileções intelectuais: trata-se do “caso, no sentido quase clínico do termo”, ou seja, autores que “vão em direção à catástrofe, assim como os que se situam para além da catástrofe. Minha grande admiração é por quem se encontra a ponto de desabar. É por isso que amei Nietzsche ou Otto Weininger”, diz Cioran a Fernando Savater.[5] Sebastian retrata Cioran como um caso “delirante” – suspeitando ao mesmo tempo da autenticidade desse delírio.

O Livro das ilusões é, nas palavras de Sebastian, o livro de um escritor “delirante, que ama o seu delírio e o alimenta, entretém, estimula”. O autor “não somente tem febre, como também o orgulho da febre”. É “um delirante que quer delirar”, “um desesperado que quer se convencer do próprio desespero”, o qual parece antes uma “deformação voluntária de atitude”, um patetismo trágico a borrar a distinção entre “ser e querer estar doente” (como o “convalescente que aspira à doença” retratado no Breviário de decomposição).

Lançando suspeitas sobre este que viria a ser saudado como um grande “mestre da suspeita” (ao lado de Feuerbach, Nietzsche, Freud, entre outros), Sebastian atualiza uma antiga problemática filosófica – que remonta ao Fedro de Platão – acerca dos diferentes tipos de mania ou “loucura”. No Fedro, Sócrates problematiza o fenômeno da mania a partir de um discurso (maledicente) de Lísias sobre o Amor (Eros). Platão distingue, através do mestre, entre uma “loucura divina” (theia mania) e uma “má loucura” (não divina, mas profana). Se a loucura é má, então o discurso de Lísias, que maldiz o Amor e o desaconselha, é verdadeiro, mas, se a loucura é boa, como um presente dos deuses, então o discurso de Lísias não diz a verdade sobre o Amor, incorrendo em pecado contra os deuses. Eros, para Platão (Banquete), é por princípio Amor do Belo. Segundo Sebastian, “o caso do senhor Cioran talvez seja mais complexo. Talvez ele carregue os traços de uma inquietude real, orgânica, mas ela é complicada e agravada por uma deformação voluntária de atitude. […] O senhor Cioran é um delirante que quer delirar. É um tífico que não aceita renunciar a sua febre. Ele se compraz nela e faz o máximo para entretê-la.”

Neste sentido, Sebastian antecipa a crítica de Clément Rosset, que evoca tacitamente “um depressivo de minhas relações”, um amigo inominado que costuma se queixar “não somente de que a existência seja, a seus olhos, horrível, mas ainda e sobretudo de que ele tenha razão de considerá-la como tal. Não somente a verdade é horrível, declara geralmente em suas crises de abatimento, mas além disso é verdade que ela o seja – ela é efetivamente horrível.”[6] Esse amigo inominado parece coincidir inequivocamente com o retrato de Cioran, no post-scriptum de Alegria: a força maior, em que Rosset aborda o pensamento do amigo romeno partir do motivo do mécontentement (descontentamento).[7]

Com distanciamento irônico e incredulidade (mas sem deixar de ser empático em relação às “tragédias” de seu jovem compatriota), Sebastian põe em questão a autenticidade (existencial, psicológica) da “autopatografia”[8] praticada por Cioran, questionando desde o início a veracidade desse livro “tífico”, que representa “uma forma grave de tifoide, transposta ao plano moral e considerada como uma concepção da vida”. Sebastian é um dos primeiros críticos, ainda na Romênia, na década de 1930, a suspeitar de que “o senhor Cioran” (sic) não passa de um “impostor” a “bancar o desesperado”, “em plena impostura psicológica e metafísica”, despejando uma escrita “inchada, gongórica, declamatória, com falsas violências, falsas lamentações, uma escrita exterior, cheia de expedientes retóricos, vocativos, imprecações e apelos, saturada de adjetivos interjeições e epítetos”.

A resenha de Sebastian antecipa algumas das críticas que serão feitas, reiteradas vezes, à obra francesa de Cioran, em que o artificialismo estético (estimulado pelo estrangeirismo, pela adoção de um idioma estrangeiro) prevalece sobre o naturalismo de um pensamento enraizado em determinado território linguístico, cultural e mental. Na Romênia, Cioran escreve como um bárbaro[9]; na França, aprende o métier da écriture, a escrever “civilizadamente” neste idioma que é para ele um garde-fou (uma camisa-de-forças) salutar.[10]

A crítica de Pierre-Henri Simon, por ocasião da publicação de Silogismos da amargura (1952), parece ecoar a de Sebastian. Para Simon (que desconhecia, à época, os textos romenos de Cioran), Breviário de decomposição e Silogismos da amargura são livros que representam o “desespero como mercadoria”. Segundo o crítico francês,

[…] se o tema da angustia, da dúvida radical e total sôbre o principio e o fim de tôdas as coisas, fôr manejado por espíritos subalternos, e que fabricam o desespêro como uma especialidade encomendada, pode provocar a desordem nas consciências fracas e irritar os leitores de boa fé. Assistimos ao triunfo literário de Job: mas entre tantos jobianos não existirão alguns farsantes? […] Cioran, que não crê em nada, crê certamente na literatura e especialmente na sua e, graças a Deus! pois esta futilidade talvez sirva para contrabalançar sua angústia e salvá-lo da vala comum.”[11]

16 anos antes, Sebastian questionava, a propósito do Livro das Ilusões: “Seu delírio é de natureza biológica ou apenas literário? No primeiro caso, seu livro poderia, pelo menos, ser concebido como um documento de psicologia. No segundo, seria, na melhor das hipóteses, um exercício de estilo.” O estilo do “senhor Cioran” é “eminentemente catastrófico”, “um estilo demolido”, cujas palavras são “destruídas pelo excesso, esmagadas pelo abuso, esticadas, descoloridas e assassinadas pelo artifício. […] Eis porque nos é bastante difícil acreditar em seus dramas. Eis porque sempre temos o sentimento de nos encontrarmos enredados numa terrível farsa.”

“Talvez o senhor Cioran seja, ele mesmo, vítima dessa farsa”, logo acrescenta Sebastian, alusivamente. Colocar Cioran como “vítima dessa farsa” pode ser uma alusão à influência funesta de Nae Ionescu, o professor universitário e mentor intelectual da geração de Cioran, nacionalista e antissemita convicto, responsável por cooptar os jovens alunos para o movimento legionário (Guarda de Ferro). Além disso, Ionescu foi o principal proponente do trăirism, uma filosofia/ideologia de caráter nacionalista, uma espécie de existencialismo/vitalismo romeno de orientação fortemente irracionalista e mística. Dramaturgo, jornalista, ensaísta e romancista romeno, de ascendência judaica, Mihail Sebastian (1907-1945) foi membro da tânăra generaţie de Cioran, Ionesco e Eliade, tendo participado, com estes e outros da mesma geração, do grupo Criterion, reunido em torno de Eliade.[12]

Sebastian pertencia a um grupo de intelectuais talentosos próximos ao jornal Cuvântul (A Palavra), que começou de modo anticonformista e relativamente liberal. Quando Cuvântul foi transformada no jornal oficial da Guarda de Ferro, muitos dos amigos de Sebastian deslizaram, junto com seu mentor comum, Nae Ionescu, em direção ao fascismo romeno. […] Como Sebastian observou durante os primeiros anos da guerra, sua vida se tornava cada vez mais difícil. Muitos de seus ‘amigos’ o desertaram, e a legislação antissemita crescente fez dele um pária”.[13]

Radu Ioanid relata o episódio traumático e humilhante do prefácio escrito por Nae Ionescu para um livro de Sebastian, De două mil de ani [Por dois mil anos], um texto violentamente antissemita para o livro de um escritor judeu. Contra o desejo de Sebastian de conciliar sua identidade judaica com sua nacionalidade romena, o professor antissemita argumentava que “um judeu nunca poderia pertencer a uma comunidade nacional”, alertando o aluno a “nem ousar considerar-se romeno”, o que seria, segundo ele, uma “ilusão assimilacionista, a ilusão de muitos judeus que acreditam sinceramente que são romenos”. Apesar de tudo, relata Ioanid, Sebastian decidiu incluir o prefácio antissemita no livro, e só posteriormente, em outro livro, ele responderia, com raiva e tristeza, ao golpe.

Apesar da influência funesta de Nae Ionescu, e de sua assimilação à Guarda de Ferro, Cioran é evocado por Sebastian diversas vezes, e de forma empática, nos seus Diários 1935-1944: Os anos fascistas. Há o relato de um encontro casual com Cioran, na rua, em 2 de janeiro de 1941. “Cioran estava irradiante”, lembra Sebastian, pois tinha acabado de ser nomeado agregado cultural na França. “Ele é um caso interessante. É mais do que um caso: é uma pessoa interessante, impressionantemente inteligente, sem preconceitos, e com uma dose dupla de cinismo e indolência, combinados de maneira divertida.”[14]

Rodrigo Inácio R. Sá Menezes, junho de 2022


Emil Cioran, O Livro das Ilusões[15]

Mihail Sebastian

O Livro das Ilusões é um livro delirante. O senhor Cioran é, ele mesmo, um escritor em delírio, que ama seu delírio e o alimenta, entretém, estimula. É um homem que não tem somente a febre, mas também o orgulho da febre. A febre, para o senhor Cioran, é uma maneira de contemplar e compreender o mundo. A febre, segundo ele, é um programa, uma filosofia e uma metafísica.

Se estivesse seguro de que a palavra não soaria como uma gozação, eu diria que este “livro das ilusões” é um livro tífico. Ele representa uma forma grave de tifoide, transposta ao plano moral e considerada como uma concepção da vida.

É grave? Não sei. Ignoro se é, pois ignoro antes de tudo em que medida o senhor Cioran delira sinceramente. É um doente, um hipocondríaco ou um impostor? Seu delírio é de natureza biológica ou apenas literário? No primeiro caso, seu livro poderia, pelo menos, ser concebido como um documento de psicologia. No segundo, seria, na melhor das hipóteses, um exercício de estilo.

Confesso que não posso dar uma resposta categórica a estas questões. O caso do senhor Cioran talvez seja mais complexo. Talvez ele carregue os traços de uma inquietude real, orgânica, mas ela é complicada e agravada por uma deformação voluntária de atitude. Quem pode dizer onde se situa o limite entre ser e querer estar doente?

O senhor Cioran é um delirante que quer delirar. É um tífico que não aceita renunciar a sua febre. Ele se compraz nela e faz o máximo para entretê-la.

Eis porque, lendo não apenas o presente livro, mas toda sua produção literária em geral (o primeiro volume, Nos cumes do desespero, além de quase todos os seus ensaios em diversas publicações), nos perguntamos se o senhor Cioran é verdadeiramente um desesperado, ou se apenas banca o desesperado.

A questão, repito, não se resolve assim. Sou sinceramente desejoso de compreender o drama deste homem (se drama há!) – e, precisamente por isso, não posso simplificar as coisas muito facilmente, considerando o senhor Cioran em plena impostura psicológica e metafísica.

É verdade, contudo, que a sua escrita nos leva amiúde a esta última pressuposição. É uma escrita inchada, gongórica, declamatória, com falsas violências, falsas lamentações, uma escrita exterior, cheia de expedientes retóricos, vocativos, imprecações e apelos, saturada de adjetivos interjeições e epítetos. É um estilo eminentemente catastrófico (cujas influências literárias são, de resto, facilmente identificáveis), um estilo que grita, berra, uiva – e ignoramos se uiva sob o efeito de uma necessidade orgânica de expressão, ou sob o efeito de um maneirismo literário deliberado.

O próprio senhor Cioran define sua arte poética: “[…] pensar na febre, ter pensamentos ardentes, extrair vapor das ideias”.[16]

Esta definição adquire contornos cômicos evidentes. Entretanto, estou decidido a não rir, nem mesmo sorrir, lendo o senhor Cioran. Já não teria nenhum sentido falar deste livro, que qualquer cronista bem-disposto poderia, só de citá-lo, ridicularizar.

Não busquei muito semelhante efeito; e o buscaria ainda menos hoje. O Senhor Cioran nos desarma precisamente pela sua imprudência. Em certo sentido, sua coragem de escrever assim é heroica, desbravando (e talvez aceitando) o ridículo sob todas suas formas, e acreditando – provavelmente – ultrapassá-lo.

A ironia é uma resistência absolutamente insuficiente em face do delírio. Não sejamos, pois, irônicos com o senhor Cioran. Seria demasiado fácil, e muito pouco ao mesmo tempo.

Ele escreve com “chamas e raios”, escreve “em perpétua exaltação, enfeitiçado e enlouquecido”,[17] numa “embriaguez de melodias”,[18] com “fogo, impulsos bárbaros e explosões”,[19] numa “beatitude de uma intensidade bestial e de uma unicidade demoníaca”,[20] com um “entusiasmo perverso e sacudido por um tremor total”.[21]

O que me inquieta nesse estilo catastrófico (e é a única coisa que eu submeteria amigavelmente à meditação do senhor Cioran) não é o seu valor literário, mas a sua real incapacidade de expressão.

O estilo do senhor Cioran é um estilo demolido. Suas palavras são destruídas pelo excesso, esmagadas pelo abuso, esticadas, descoloridas e assassinadas pelo artifício. Nada mais as palavras mais seguramente do que o superlativo. O livro do senhor Cioran geme, abatido pelos superlativos.

Eis porque nos é bastante difícil acreditar em seus dramas. Eis porque sempre temos o sentimento de nos encontrarmos enredados numa terrível farsa.

Talvez o senhor Cioran seja, ele mesmo, vítima dessa farsa. Deixa-se conduzir pelas palavras, deixa-se arrastar pelo seu ritmo persuasivo, e, pouco a pouco, torna-se a presa de seu próprio jogo verbal, no qual, por uma mistificação inconsciente, ele começa a acreditar.

O senhor Cioran exclama: “Sou desesperado! Sou desesperado!”, e, enquanto o exclama, se convence do seu próprio desespero.

Se dissessem que ele não é desesperado, que é um homem são, vigoroso e equilibrado, o senhor Cioran sem dúvida se sentiria ofendido.

Aliás, ele observa, em uma passagem, com uma clarividência surpreendente e imprudente, que o desespero é uma forma de entusiasmo. A observação me parece cheia de juvenilidade, mas, por outro lado, me fazem ter a esperança de que as tragédias desse ensaísta não sejam incuráveis.

Escrevi outrora, em outra ocasião – referindo-me a outros dentre nossos jovens escritores –, sobre um gênero do trágico que denominei o “trágico declarativo”. A fórmula se aplica maravilhosamente bem ao senhor Cioran.

Ele declara: “Eu morri inúmeras vezes”.[22]

Ou: “Sou um Raskolnikov sem a desculpa do crime”.[23]

Semelhantes afirmações devem ser acolhidas com bastante prudência, tanto mais quanto nada, na escritura do senhor Cioran, nos faz crer em sua realidade interior.

Uma consciência trágica não surge de simples declarações de catástrofe, e o fato de viver um drama nunca poderá ser substituído por diversos exercícios verbais. Eu poderia evocar o exemplo de Dostoievski (que, de resto, é presente no livro do senhor Cioran, na forma de uma reminiscência literária). Recordaremos, todavia, dois exemplos mais próximos de nós: o de Barbellion[24] (o autor do inesquecível Diário de um desiludido) e o do jovem Max Blecher, o autor das magnificas Acontecimentos na irrealidade imediata,[25] do qual tenho amiúde falado.

Eis dois livros que são verdadeiramente, cada um em parte, diários de uma consciência trágica.

Quanto ao senhor Cioran, ele não nos dá senão um livro de literatura, no qual as sombras de Nietzsche, Gide e Dostoievski se sobrepõem de maneira bastante visível.

OBS: Lamento não poder integrar neste artigo os elementos “mozartianos” que o senhor Cioran reconhece, para o nosso grande espanto, em sua própria sensibilidade.

Quanto a mim, eis um ponto – o único – sobre o qual eu poderia me juntar a esse ensaísta. Talvez eu tenha um dia a oportunidade de escrever sobre este assunto. Sobretudo porque o senhor Cioran é um escritor ativo.


NOTAS:

[1] O Livro das ilusões, na tradução de José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.

[2] SIMON, Pierre-Henri, “O desespero como mercadoria”, Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, ano IV, no 785, 19-20 de julho 1952, p. 9. Disponível: https://portalcioranbr.wordpress.com/2020/05/16/desespero-mercadoria-phsimon/

[3] STEINER, George, “Curto prazo final”, Tigres no espelho. Trad. de Denise Bottman. São Paulo: Globo, 2012, p. 293-303.

[4] Cf. O princípio de crueldade e o post-scriptum de Alegria: a força maior: “O descontentamento de Cioran”. Disponível: https://portalcioranbr.wordpress.com/2012/10/26/descontentamento-de-cioran/

[5] CIORAN, E. M., Entretiens. Paris : Gallimard, 1995, p. 24.

[6] ROSSET, Clément, O princípio de crueldade. Trad. de José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 1989, p. 18.

[7] IDEM, “O descontentamento de Cioran (post-scriptum)”, Alegria: a força maior. Trad. de Eloísa Araújo Ribeiro. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000, p. 95.

[8] “Doravante não se pode tornar-se autobiógrafo sem ser autopatógrafo – isto é, sem tornar público seu registro de doenças. É sincero quem admite aquilo que lhe falta. Cioran foi o primeiro a subir a rampa e declarar: falta-me tudo – e, pela mesma razão, tudo me é demasiado.” SLOTERDIJK, Peter, “Cioran ou l’excès de la parole sincère”, Cahier L’Herne Cioran. Paris : L’Herne, 2009, p. 232.

[9] Eis como Cioran percebe a cultura (e a língua) francesa em seu primeiro livro, Nos cumes do desespero (1934): “Diante do refinamento de uma cultura aprisionada em formas e limites que mascaram tudo, o lirismo é uma expressão bárbara. Eis de fato o seu valor, o de ser bárbaro, ou seja, de ser só sangue, sinceridade e chamas.” CIORAN, Emil, “Ser lírico”, Nos cumes do desespero. Trad. de Fernando Klabin. São Paulo: Hedra, 2012, p. 19.

[10] “Seria iniciar o relato de um pesadelo contar-lhe com minúcias a história de minhas relações com este idioma emprestado, com todas as suas palavras pensadas e repensadas, refinadas, sutis até a inexistência, transtornadas pelos rigores da nuança, inexpressivas por haver exprimido tudo, de precisão assustadora, carregadas de fadiga e de pudor, discretas até na vulgaridade. Há épocas em que se gosta das coisas adocicadas. […] Quanto café, quantos cigarros e dicionários para escrever uma frase mais ou menos correta nesta língua inabordável, demasiado nobre, demasiado distinta para o meu gosto! E só me dei conta disso depois, quando, infelizmente, já era tarde demais para afastar-me dela; de outra forma, nunca teria abandonado a nossa, da qual às vezes sinto saudades do cheiro de frescor e de podridão, da mistura de sol e de bosta, da feiura nostálgica, da soberba descompostura. Não posso mais voltar para ela; a língua que tive que adotar me prende e me subjuga por causa dos próprios incômodos que me custou. Sou um ‘renegado’, como você insinua? ‘A pátria é apenas um acampamento no deserto’, diz um texto tibetano.” IDEM, “Sobre dois tipos de sociedade (carta a um amigo longínquo)”, História e utopia. Trad. de José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 2011, p. 11-12.

[11] SIMON, Pierre-Henri, “O desespêro como mercadoria”, Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, ano IV, no 785, 19-20 de julho 1952, p. 9.

[12] De Sebastian, estão publicados em português, no Brasil, Por dois mil anos: um estudante judeu na Romênia antissemita dos anos 1930, traduzido por Eugenia Flavian (Amarylis, 2017), e Fragmentos de um diário encontrado, traduzido por Fernando Klabin (Ayllon, 2021).

[13] IOANID, Radu, Introduction. In SEBASTIAN, Mihail, Journal (1935-1944): The Fascist Years. Transl. by Patrick Camiller. Chicago: Ivan R. Dee, 2000, p. xi.

[14] SEBASTIAN, Mihail, Journal (1935-1944): The Fascist Years, p. 303.

[15] Resenha publicada na revista romena Rampa, ano XIX, no 5522, 13 de junho de 1936, p. 1 (“A Crônica Literária”). Apud TACOU, L.; PIEDNOIR, V. (orgs.), Cahier L’Herne Cioran. Paris: L’Herne, 2009. Trad. do romeno de Vincent Piednoir. Trad. do francês de Rodrigo Menezes.

[16] CIORAN, Emil, O Livro das ilusões. Trad. de José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 2012, p. 76.

[17] Ibid., p. 9.

[18] Ibid., p. 9.

[19] Ibid., p. 13.

[20] Ibid., p. 9.

[21] Ibid., p. 22.

[22] “Eis o que me diferencia dos outros homens: eu morri inúmeras vezes, enquanto eles, ao contrário, não morreram nunca.” Ibid., p. 46.

[23] “Epígrafe para uma autobiografia: Sou um Raskolnikov sem a desculpa do crime.” Ibid., p. 86.

[24] Wilhelm Nero Pilate Barbellion, pseudonimo literário de Bruce Frederick Cummings (1889-1919), foi um escritor inglês, autor de The Journal of a Disappointed Man (1919).

[25] BLECHER, Max, Acontecimentos na irrealidade imediata. Trad. de Fernando Klabin. São Paulo: Editora Hedra (Ayllon), 2021.

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