“As velhinhas e o diabo: aforismos para tempos que esperam pelo despertar da história” – Rodrigo MENEZES

Revista Humanitas, 154, agosto de 2022

O que pareceria uma associação improvável, representada no título do novo livro de Ciprian Vălcan, revela-se, através dos aforismos do autor romeno, a metáfora de uma terrível “afinidade eletiva”

Things are gonna slide
in all directions
Won’t be nothing, nothing
you can measure anymore
And the blizzard of the world
has crossed the threshold
and it’s overturned
the order of the soul.
[1]

Leonard Cohen (“The Future”)

Nascido em 1973, em Arad, cidade romena localizada na região da Transilvânia, Ciprian Vălcan passou a infância e a adolescência sob o regime comunista, que viria a ruir, com a queda de Ceauşescu, no Natal de 1989. Aluno exemplar ao longo de toda a sua formação, foi bolsista na École Normale Supérieure (1995-1997), e doutorou-se na École Pratique des Hautes Études (2000-2006).

Tendo investigado, no doutorado, a concorrência das influências francesas e alemãs na obra de Cioran, Vălcan é uma das maiores referências nos estudos cioranianos em todo o mundo. Sua tese de doutorado, La concurrence des influences culturelles françaises et allemandes dans l’oeuvre de Cioran, foi publicada na forma de livro em 2008.[2] Para além da produção acadêmica, Vălcan é um intelectual romeno polivalente, um autor prolífico com dezenas de livros publicados sobre os mais diversos temas.

Ciprian Vălcan não será uma incógnita para quem acompanha esta revista, em cujas páginas têm aparecido, nos últimos anos, alguns de seus ensaios. Aliás, não é de hoje que os aforismos e ensaios de Vălcan vêm sendo apresentados ao público brasileiro, graças às traduções de Fernando Klabin. “As velhinhas e o Diabo” (Babele şi diavolul no original romeno) é seu mais novo livro de aforismos, publicado pela Tesseractum em edição bilingue, que eu tive a honra de traduzir. Babă[3] é um substantivo do gênero feminino que significa “velha” (substantivo feminino, mulher de idade avançada), mas também “avó” ou “vovó”.

Optamos por “velhinhas” não só para dar ao título uma peculiaridade muito brasileira, o diminutivo tão usual em nossa cultura, mas também para suscitar uma ambiguidade poética, deixando em aberto se as “velhinhas” em questão são “boazinhas”, confirmando o estereótipo, ou não.

Uma curiosidade: na cultura popular romena, os 9 primeiros dias de março, quando a meteorologia é muito imprevisível, são chamados Zilele babei (“os Dias da avó”, “os Dias da velha”), ou simplesmente Babe. Cada pessoa escolhe um dos 9 dias para adivinhar como será o ano para ela, a julgar pelo clima do dia escolhido. Pars pro toto, o ano seria aqui uma metáfora da história, cujas convulsões nos levam a crer que os dias escolhidos pelas velhinhas revelar-se-iam tempestuosos.

Aforismo: pílulas de sabedoria para um mundo de incerteza

“O aforismo jamais coincide com a verdade; ou é uma meia verdade ou uma verdade e meia.”

Karl Kraus

Só cultivam o aforismo os que conheceram o medo no meio das palavras, esse medo de desmoronar com todas as palavras.

Emil Cioran

Ciprian Vălcan é um filósofo que preza por uma racionalidade não sistemática, mas ensaística e experimental – de onde o estilo aforismático de As velhinhas e o diabo. O aforismo, forma discursiva lapidar (breve, concisa), conta com uma longa e respeitável tradição de adeptos, da Antiguidade greco-romana aos dias atuais, passando por autores como os moralistes[4] franceses, Baltasar Gracián, os românticos alemães, Schopenhauer, Nietzsche, Karl Kraus, Lichtenberg, Strindberg, Cioran, entre outros. Para estes autores, dentre os quais inclui-se Vălcan, o zelo estético (de onde a valência poética e literária do aforismo) não é mero detalhe acessório, adorno supérfluo, mas um fator crucial e inseparável do teor das ideias.[5] A brevidade aforismática, reticente ou assertiva, pretende exprimir por si só uma intuição fundamental (finitude, incerteza, incompletude), uma visão de mundo (trágica). Estética, ética e ontologia encontram-se entrelaçadas na escolha do aforismo como forma discursiva; desordem, absurdo, conflito, paradoxo, antinomia, entropia: constantes da existência humana, “demasiado humana”, que o aforismo conta exprimir em sua micrototalidade.

Etimologicamente, aphorismos denota a ideia de horizonte delimitado ao alcance do olhar. Pretende condensar assim uma visão única – jamais definitiva – sobre o mundo, a história, a sociedade, o ser humano. Pode ser sentencioso ou alusivo, exprimir-se com gracejo ou gravidade (encontraremos ambos os tipos no livro de Vălcan). Aforismos prestam-se a uma abordagem aproximativa e interpretativa da verdade, da realidade das coisas, da existência que nos é comum. Dotado de certa agressividade subliminar, o aforismo possui um pathos próprio; pode ser cortante e incisivo, como uma bofetada ou um balde de água fria. “Os furiosos são superiores, do ponto de vista estilístico, aos meros calófilos. Um cruzado no meio da cara causa mais impressão do que uma metáfora bem-feita”, escreve, cheio de ironia, Vălcan. O aforismo não é dialético, mas explosivo; como afirma Cioran, seu ilustre antecessor (e compatriota), a Verdade “encontra-se em Shakespeare; um filósofo não poderia apropriar-se dela sem explodir com seu sistema”[6] – no que o autor de As velhinhas e o diabo não poderia estar mais de acordo.

Pode-se ler um livro como As velhinhas e o diabo de ponta a ponta, todos os aforismos numa única sentada, como pode-se abri-lo em qualquer página, ao acaso, para dar de cara com um aforismo que nos proporciona, inusitadamente, valiosos insights. O aforismo parte de uma intuição súbita acerca do mundo, que o pensador existencial busca interpretar, de modo que a leitura de aforismos é uma decifração do mundo em segundo grau – sendo os pensamentos, ou, a fortiori, a experiência vital dos quais se originam, a tentativa primeira de interpretação do mundo (sempre fragmentária, precária, incompleta). Enfim, o aforismo requer, como assinalou Nietzsche, uma arte da interpretação, e “é certo que, a praticar desse modo a leitura como arte, faz-se preciso algo que precisamente em nossos dias está bem esquecido […], para o qual é imprescindível ser quase uma vaca, e não um ‘homem moderno’: o ruminar…”.[7]

As velhinhas e o diabo: uma polifonia balcânica

Os personagens do título são uma pequena amostra da diversidade de figuras paradigmáticas ou arquetípicas que povoam o imaginário mitopoético de Vălcan, um índice da polifonia que pauta o seu pensamento. Velhinhas, serial killers, canibais, personagens shakespearianos, profetas, inquisidores, filósofos, poetas e artistas dadaístas excêntricos, revolucionários, demagogos, tiranos, czarinas, imperadores loucos, samurais, escroques, trombadinhas, ascetas, sábios e santos, recepcionistas, bailarinas virgens em vias de desaparição, soldados russos… e o Diabo, presente em muitos aforismos (se é que não se encontra também ao redor deles, nas margens do texto). Em sua polifonia vertiginosa, Vălcan nos conduz por uma diversidade de épocas e cenários históricos: além de futuros distópicos, como uma hipotética Europa do século XXII, a Grécia antiga e a Antiguidade tardia, a Idade Média e a Inquisição ibérica, a Revolução Francesa e o Século das Luzes, a Alemanha da virada do século 19 para o 20, a China, a Índia e o Japão pós-moderno, a Rússia czarista e a União Soviética, o Juízo Final…

Uma cartografia de abismos e outros não-lugares. Erudição à parte, os aforismos de As velhinhas e o diabo nos revelam um filósofo que pensa intuitivamente, sem reservas, o mundo, a sociedade e a cultura atuais, mas também as constantes da condição humana: sofrimento, doença, contingência, finitude… A polifonia de Vălcan é a expressão poética de um pensamento filosófico que busca apreender, em imagens e metáforas, as tendências espirituais e culturais predominantes em nossa época, suas rupturas e convulsões, o ritmo mesmo dos tempos modernos. Vălcan aborda os paradoxos e as contradições da existência humana – autoconsciente – submetida ao tempo e à finitude, o sentido ou sem-sentido da história, o fenômeno da decadência na cultura e nas artes, a dialética entre tradição e modernidade, o impasse do capitalismo e os desafios do mundo globalizado, a condição humana pós-moderna, enfim, isso que Freud designou o “mal-estar na civilização” – atualizado para o século XXI, por uma perspectiva romena.

Na linha dos moralistes, como La Rochefoucauld, Vălcan faz uma análise incisiva – e muitas vezes “cáustica” – do espírito do nosso tempo (de um tempo que, segundo Cioran, é “infinitamente intenso, e sem substância”[8]). Digamos que suas conclusões não são lá muito animadoras; nenhuma intenção demagógica entra na economia de suas palavras; seu objetivo é antes despertar do que consolar. Vălcan é um humanista sem ilusões. Ponderando sobre os costumes e as modas das novas gerações, cada vez mais dispostas a qualquer coisa para angariar likes no TikTok, Vălcan prevê melancolicamente que “as crianças do século XXII não vai mais querer ser Goethe ou Maradona ou John Lennon, mas Ted Bundy ou Charles Manson” (dois serial killers[9]). Ou Anders Breivik, também presente em As velhinhas e o diabo, que desponta, na visão de Vălcan, como um exemplo funesto para as futuras gerações, sobretudo na Europa, onde proliferam movimentos neonazistas e neofascistas.

Apesar de tudo, Vălcan não é um pessimista, filosoficamente falando, como poderia parecer. Se há pessimismo em sua obra, é metodológico, de percurso. O que está na base do seu pensamento é, isto sim, uma intuição trágica (que não exclui o humor e alegria), uma compreensão problemática da existência que não redunda em doutrina ou sistema filosófico de pessimismo. Também está longe de ser um niilista, embora bastante familiarizado com o fenômeno do niilismo (e com o problema do nada, por uma perspectiva existencial). Em matéria de crítica filosófica, a posição de Vălcan está mais para uma combinação de Diógenes, o Cínico, e Kierkegaard (ou Diógenes e Dostoiévski). De onde o duplo registro discursivo – crítico e edificante– do seu pensamento, a pars destruens e a pars construens do seu discurso filosófico. É preciso criticar, negar, demonstrar o mal em toda sua gravidade, para então fabular acerca de uma (im)possível utopia.[10] É preciso compreender o mundo para ousar transformá-lo – e ainda que se tenha dele a compreensão mais profunda, isso não será garantia de nada.

A visão distópica, como insistência no negativo, é necessária em se tratando de imaginar, sem ilusões, um “mundo melhor” – ou ao menos uma forma de habitação planetária menos predatória (destrutiva) do que o modelo capitalista de consumo que predomina no mundo atual. É preciso antes ver a face horrível do mundo para poder conceber sua luminosa transfiguração. Cinismos e pessimismos à parte, certos aforismos evocam a presença misteriosa e inefável de uma força superior, a abertura do humano a uma transcendência pela qual torna-se possível superar as adversidades da vida, ou ao menos habituar-se a elas. Muitos dos aforismos se destacam pelo tom espirituoso (tirada ou boutade), mesmo no trato com temas tradicionalmente solenes. Segundo o teólogo Adolf von Harnack, citado por Vălcan, “Deus poderia assumir uma natura asinaria[11] e ainda assim ser capaz de nos salvar.” Nunca subestimemos os asnos, portanto, nem os idiotas, os loucos, os escroques. Aliás, “não profetas, mas apenas escroques poderiam, talvez, salvar o mundo”, provoca o autor romeno.

As “velhinhas” (babe) são uma figura-chave no imaginário filopoético de Vălcan, personificação da memória ancestral e da experiência de vida, de uma fertilidade se não biológica, espiritual e sapiencial (Sócrates, essa “velhinha” do sexo masculino, era conhecido por ser uma hábil “parteira de almas”). Na poética de Vălcan, elas situam-se no limiar da ambiguidade entre candura e lucidez “luciferina”,[12] amabilidade e amargura, pietismo e cinismo. Há algo mais irresistível do que uma velhinha sem papas na língua, tipo Dercy Gonçalves? Em virtude do seu “profundo conhecimento da natureza humana”, “a nossa civilização deveria conferir títulos de doctor honoris causa às velhinhas”, pensa Vălcan. As velhinhas são repositórios de um valioso conhecimento antropológico. Algumas delas podem até representar uma séria ameaça às autoridades instituídas, políticas e religiosas. “Os Inquisidores procederam com muita sabedoria acusando as velhinhas de bruxaria: era a sua única chance de queimá-las na fogueira.” São profundas conhecedoras dos mistérios que existem entre o céu e a terra, sagrados e profanos. Por isso, “as ameaças do Juízo Final não têm nenhum efeito sobre as velhinhas. Elas não se impressionam com o fogo do inferno, apenas com os fogos na praça pública.”

Descobrimos, por fim, que a “velhinha”, arquetipicamente considerada, não se limita a pessoas do sexo feminino e de idade avançada, sendo uma metáfora antropológica assexuada que aplica-se muito bem a certos homens, os filósofos em primeiro lugar. “Os filósofos sempre pareceram mais velhos do que realmente eram. Não existem filósofos com semblantes infantis. Poetas podem permanecer crianças. Filósofos nascem velhinhas.” Nietzsche mesmo, por mais que exaltasse a vitalidade, a “grande saúde”, teria algo de “velhinha”. Segundo Vălcan, sua perspicácia psicológica “se deve à frequentação das velhinhas. A sua obra não seria a mesma sem Malwida.”[13]

Outra figura-chave – representando o que se poderia designar uma “figura-limite” – é o Canibal. Evocando retoricamente esta figura pitoresca, tão alheia ao que nós conhecemos por “civilização”, Vălcan atualiza para o século XXI toda uma problemática ético-filosófica presente na obra de Cioran. Em “Retrato do homem civilizado”, que integra o inédito La Chute dans le temps (1964), importante ensaio disponível em língua portuguesa graças à revista (n.t.) Nota do Tradutor, Cioran escreve:

A obstinação em banir da paisagem humana o irregular, o imprevisto e o disforme beira a indecência. Que em certas tribos ainda tenham prazer em devorar os anciãos excedentários é sem dúvida deplorável; mas que tão pitorescos sibaritas devam ser exterminados, com isso não consentiremos jamais, sem contar que o canibalismo representa um modelo de economia fechado e, ao mesmo tempo, uma prática apta a seduzir, um dia, um planeta abarrotado.[14]

Segundo Vălcan, “a etapa final do capitalismo é o canibalismo”. Aforismo que serve de fio condutor ao prefácio de As velhinhas e o diabo, um primoroso ensaio de Giovanni Rotiroti, professor de língua e literatura romena na Università degli Studi di Napoli L’Orientale (e amigo de Vălcan). Pode-se interpretar este enunciado de duas maneiras distintas: (1) literalmente, a exemplo da passagem supracitada de Cioran, sendo o canibalismo a consequência fatídica de causas materiais muito concretas, notadamente a correlação entre população mundial e escassez de recursos (comida); (2) alegoricamente, sendo o Canibal, neste caso, uma metáfora para os que Karl Popper considera os “inimigos da sociedade aberta”: indivíduos e grupos iliberais, autoritários, fundamentalistas religiosos e extremistas políticos (neonazistas, neofascistas, tradicionalistas e reacionários), terroristas e conspiradores apocalípticos, fanáticos de diferentes orientações, religiosos ou seculares. “Canibalismo” como autofagia espiritual e cultural de uma civilização patologicamente doente. Neste sentido alegórico, Anders Breivik[15] é o grande “canibal”, o grande predador da humanidade na história narrada por Vălcan de um ponto de vista cosmopolita. “A história do homem contemporâneo será a história dos monstros que terá produzido. A partir do século XXII, não concederão mais o prêmio Nobel, mas o prêmio Breivik”, sentencia o autor romeno.

Wake up Call

Tomamos do prefácio de Rotiroti o subtítulo desta resenha: “Aforismos para tempos que esperam pelo despertar da história”. Contra o aceleracionismo e o apocalipticismo, essas duas “ansiedades do pior” (expressões distintas de um mesmo extremismo, de um mesmo fanatismo), Vălcan nos recomenda paciência e lentidão, a arte de esperar e a de demorar-se, ócio meditativo, a experiência epifânica do tédio, ruminar… Trata-se, pois, de despertar para compreender o que parece incompreensível, o absurdo que é nossa substância. Neste sentido, As velhinhas e o diabo aparece para nós agora, em língua portuguesa, como uma espécie de wake up call filosófico, na dispersão fragmentária da escrita aforismática, um “grito” de alerta vindo de um país distante, de uma voz que se exprime num idioma estrangeiro, mas que não deixa de nos soar profundamente familiar…


[1] “As coisas vão escorregar em todas as direções / Não vai haver mais nada que se possa já medir / A nevasca do mundo atravessou o limiar e revirou a ordem da alma.” (Leonard Cohen).

[2] Publicado pelo Institut Cultural Rôman, em 2008. O livro está disponível em língua espanhola, tendo sido publicado na Colômbia, em 2016, pela editora da Universidad Tecnológica de Pereira (UTP), com tradução de Liliana Herrera (1960-2019).

[3] Babele é o plural (babe) com o artigo definido (le). Em romeno, os artigos definidos (masculino, feminino, neutro) são acoplados ao final das palavras. Por exemplo, zilele (“os dias”, feminino em romeno), autorul (“o autor”), conceptul (“o conceito”, neutro).

[4] Os “moralistas”, na história da filosofia francesa (e não apenas), não são pensadores dogmáticos e autoritários que buscam impor aos demais uma determinada moralidade, como o termo poderia eventualmente sugerir, em acepção corrente. Pensamos em autores dos séculos XVII e XVIII como La Rochefoucauld (1613-1680), La Bruyère (1645-1696), Chamfort (1741-1794) e Joubert (1754-1824), conhecidos por suas sentenças e máximas de cunho crítico sobre os costumes e os caracteres dos indivíduos e a sociedade como um todo: a vaidade, a falsidade, a hipocrisia, o theatrum mundi tematizado por Byung-Chul Han em Sociedade da transparência.

[5] O valor do aforismo (e sua singularidade) consiste tanto na matéria, naquilo sobre o que se debruça o autor, quanto na forma (perspectiva) pela qual ele a aborda. Fazendo coincidir conteúdo e forma, de modo indissociável, a escrita aforismática vai na contramão do seguinte axioma de Schopenhauer (que foi, não obstante, um notável cultor de aforismos): “Um livro nunca pode ser mais do que a impressão dos pensamentos do autor. O valor desses pensamentos se encontra ou na matéria, portanto naquilo sobre o que ele pensou, ou na forma, isto é, na elaboração da matéria, portanto naquilo que ele pensou sobre aquela matéria.” SCHOPENHAUER, Arthur, “Sobre a escrita e o estilo”, § 3, A arte de escrever. Trad. de Pedro Süssekind. Porto Alegre: L&PM, 2007, p. 63.

[6] CIORAN, E. M., Silogismos da amargura. Trad. de José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 2011, p. 104.

[7] NIETZSCHE, Friedrich, Genealogia da moral. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 14-15.

[8] CIORAN, E. M., A Tentação de existir. Miguel Serras Pereira e Ana Luisa Faria. Lisboa: Relógio D’Água, 1988, p. 89.

[9] Para uma crítica iluminadora do fenômeno dos serial killers, como Charles Manson e Ted Bundy, e o nexo psicológico entre curiosidade, transgressão e perversão, cf. SHATTUCK, Roger, Conhecimento proibido. Trad. de S. Duarte. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

[10] Como Nietzsche e Cioran, Vălcan não conta rechaçar as “ilusões” por completo, considerando-as uma propriedade inerente à vida e inseparável da existência humana, no que esta possui de autoconsciente. A propósito, Cioran declara que “em longo prazo, a vida sem utopia se torna irrespirável”, pois “a única resposta ao nada se encontra na ilusão”. CIORAN, E. M., Entretiens. Paris: Gallimard, 1995, p. 267-268.

[11] Contrariando nossas expectativas antropomórficas, a natureza e forma de um asno.

[12] Tomamos a categoria gnosiológica e psicológica do “luciferino”, em oposição ao “paradisíaco”, da filosofia de Lucian Blaga. Enquanto a cognição “paradisíaca” tem uma aspiração à totalidade do sistema, à absoluta inteligibilidade (“o real é racional, e o racional é real”), a cognição “luciferina” é trágica, fragmentária, dolorosa, problemática, sem nunca alcançar o repouso de uma unidade ideal. Cf. BLAGA, Lucian, Trilogia cunoaşterii. Bucureşti: Humanitas, 2013.

[13] Malwida von Meysenbug (1816-1903) foi uma escritora alemã do século 19, amiga e correspondente de Nietzsche (28 anos mais velha do que ele).

[14] CIORAN, E. M., “Portrait du civilisé”, La Chute dans le temps. Paris: Gallimard, 1964. Versão portuguesa: “Retrato do homem civilizado”, in: “Duas diatribes”, Revista (n.t.) Nota do Tradutor, ano IX, vol. 2, no 17, dezembro de 2018. Disponível em: https://www.notadotradutor.com/revista17.html (acesso em 11/04/2022)

[15] Anders Breivik é um terrorista e serial killer norueguês. Em 22 de julho de 2011, ele assassinou 77 jovens, num encontro político de movimentos de esquerda na ilha de Utøya, motivado por ideias ultranacionalistas, xenofóbicas, racistas e supremacistas. O julgamento de Breivik ocorreu em julho de 2012. Ele foi condenado de assassinato em massa e terrorismo, entre outras acusações, recebendo uma sentença de 21 anos de prisão (o máximo permitido pelo sistema penal norueguês).

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