“Pobreza da sabedoria” – CIORAN

Detesto os sábios por seu comodismo, seu medo e sua reserva. Amo infinitamente mais os homens dominados por grandes paixões que os devoram até a morte, do que a monótona disposição dos sábios, que os torna insensíveis tanto ao prazer quanto à dor. O sábio desconhece o caráter trágico da paixão, desconhece o medo da morte, assim como ignora o impulso e o risco, o heroísmo bárbaro, grotesco ou sublime. Sua alma gélida não vibra. Ele fala por meio de máximas e distribui conselhos. Seu aspecto superior e transcendental o torna incapaz de tragédias, de dramatismo infinito ou de exaltação heroica. O sábio nada vive e nada sente, nada deseja e nada espera. Ao estabelecer todos os conteúdos da vida numa equivalência, ele arca com todas as consequências dessa anulação. Parece-me porém tão complexa uma existência que, estabelecendo essa equivalência, não cessa contudo de se agitar, no limite, em determinados conteúdos. A existência do sábio é estéril e vazia, pois é completamente desprovida de elementos contraditórios, antinomias e desesperanças; ele desconhece a tragicidade das grandes paixões. São infinitamente mais fecundas as existências que, ao assumir todas as consequências, não param de se contradizer, não param de ser devoradas por contradições orgânicas e intransponíveis. A resignação do sábio é fruto de um vazio interior, e não de um incêndio íntimo. Prefiro morrer de um incêndio a perecer no vácuo e na resignação do sábio.


CIORAN, Emil, Nos cumes do desespero. Trad. de Fernando Klabin. São Paulo: Hedra, 2012, p. 108.