“O niilismo schopenhaueriano: uma introdução” – Jarlee SALVIANO

Cadernos de Filosofia Alemã (USP), nº 7, 2001, p. 37-53.

Resumo: Neste texto procuramos mostrar como se pode analisar o problema do niilismo na filosofia de Schopenhauer sem recorrer à interpretação nietzschiana – tendo em vista o peso e a importância dada por esta interpretação a este conceito dentro da filosofia e levando em conta principalmente que o termo não aparece em nenhum momento da obra schopehaueriana – tendo como pano de fundo a recepção do idealismo transcendental kantiano na Alemanha do final do século XVIII e início do XIX.
Palavras-chave: niilismo – nada – Vontade – idealismo

Abstract: In this text one search to show how one can analyze the problem of nihilism in Schopenhauer’s Philosophy without resorting to Nietzsche’s Interpretation – having in mind the weight and the importance given by this interpretation to this concept in the philosophy and take into consideration mostly that the term does not appear on no moment of the work of Schopenhauer – having as background the reception of Kant’s transcendental idealism in Germany in the end of the XVIII century and beginning of the XIX.
Key-words: nihilism – nothingness – Will – Idealism


O problema do niilismo acompanha às escondidas todo o desenvolvimento do pensamento schopenhaueriano. Antes de mostrar sua face nas últimas linhas de O mundo como vontade e representação, o fantasma do nada já orientava os primeiros traços da pena do filósofo de Danzig. Ao verificarmos pois como esta problemática se aloja no edifício filosófico de Schopenhauer, cabe-nos erguer o cenário de nossa investigação, ou seja, é preciso aqui escutarmos o canto que embala a dança do niilismo na filosofia alemã do início do século XIX .

É lugar-comum entre os estudiosos do tema, que a preocupação com o Nada, o vazio de Ser, o Não-ser, apesar de ter seu nome filosófico registrado no final do século XVIII, tem a idade da própria Filosofia. De fato, não foi o Ser a única prole a descansar no berço da civilização ocidental: um outro rebento, o Não-ser, contemporâneo daquele, já clamava pela atenção dos primeiros sábios da antiga Hélade. Heidegger, por exemplo, percebera já nos Diálogos platônicos a presença oculta do niilismo (Cf. Pöggeler 3, p. 308). Talvez não seja descabido também apontar esta presença nos versos oraculares do poema de Parmênides. Há ainda quem considere Górgias o primeiro niilista da história do Ocidente “pelo terrível raciocínio que nos legou: nada existe; se alguma coisa existisse, não a poderíamos conhecer; e, se a conhecêssemos, não seria comunicável (anhermèneuton)” (VOLPI 10, p. 9)… [PDF]

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