Patricia Fachin – IHU On-line, 05 Julho 2019
Apesar de a religião estar influenciando cada vez mais os processos eleitorais e a recomposição das esferas de poder, o fator determinante para a eleição do presidente Jair Bolsonaro, inclusive entre os evangélicos, foi o antipetismo. “O que foi forte entre os evangélicos que votaram no Bolsonaro foi o antipetismo, fruto da centralidade do tema da corrupção durante a campanha eleitoral. A corrupção pegou pesado, mais do que as pautas morais — essas ganharam mais força em meio à crise econômica e à percepção de corrupção da esquerda”, diz Ronaldo Almeida, doutor em Antropologia, à IHU On-Line.
Ele lembra que nas eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010, “boa parte dos evangélicos votou nos governos petistas” porque “Lula conseguiu falar aos evangélicos numa chave econômica, do emprego e do consumo, e o discurso dele atravessou as diferenças religiosas, porque era um discurso bastante generalizador num momento de prosperidade”. Já no último pleito, menciona, “com a crise econômica e a corrupção que enfraqueceram o discurso petista, os temas da segurança pública e dos costumes morais foram colocados em primeiro plano pelas ‘pessoas de bem’, entenda-se: as não de esquerda”.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone para a IHU On-Line, Almeida analisa o slogan do governo Bolsonaro “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos” e destaca que “o Deus de Bolsonaro é, antes de mais nada, cristão. Ele está olhando para uma nação religiosa, mas de maioria cristã, que combina elementos católicos e evangélicos. Na verdade, um Deus cristão cada vez mais evangélico e com cores católicas em baixa intensidade”.
O pesquisador também comenta a ascensão dos evangélicos na política e um possível projeto para ampliar a participação deles nas demais esferas do Estado, como no Judiciário. “A via eleitoral permitiu aos evangélicos ascenderem a posições do Executivo e do Legislativo, mas na composição das cortes superiores do Judiciário, por exemplo, os trilhos são outros, requerem mais capitais cultural e social. São pessoas com perfil sociológico mais a fim com as elites tradicionais e católicas, ou mesmo kardecistas e judaicas. Bolsonaro sinalizou recentemente a possibilidade de indicar um ministro evangélico para o STF. A fala dele indicou a pretensão de ocupar espaço nessas instituições e ele quer ser um indutor deste processo”, avalia… [+]
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