EMINESCU, Mihai

Mihai Eminescu (1850-1889) é unanimemente considerado o grande poeta nacional romeno. Nicolae Iorga, um dos mais importantes historiadores romenos, considera Eminescu o patrono da língua romena moderna, analogamente à influência de Shakespeare sobre a língua inglesa moderna. Em uma entrevista concedida a uma jornalista romena, em Paris, ao final de sua vida, por ocasião de uma homenagem ao poeta, Cioran declarou (com essa zeflemea tipicamente balcânica) que “Eminescu é a grande desculpa da Romênia” (Eminescu este marea scuză a României).

Como muitos outros poetas românticos ou herdeiros do romantismo, Eminescu teve uma vida breve, mas intensa e fecunda poeticamente (Leopardi, por exemplo, viveu apenas 39 anos; Fernando Pessoa, 47). Nasceu em Botoşani, na Moldávia, onde passou toda a sua infância. Estudou no ginásio de Cernăuţi (hoje parte da Bucovina ucraniana), de onde fugiu inúmeras vezes, sempre no intuito de seguir grupos de artistas ambulantes (a sua fuga mais espetacular o levaria longe, à Transilvânia). Não retornou mais ao ginásio e passou a levar uma vida de boêmio errante.

O seu pai conseguiu encontrá-lo em 1869 e mandá-lo para estudar em Viena. Na Áustria, Eminescu estuda filosofia e filologia sem, no entanto, obter qualquer diploma. Em 1872, vai para Berlim, onde segue os cursos de Dühring e Zeller, mas também não obtém nenhum diploma. Em 1874, já de volta à Romênia, consegue um modesto emprego em um escritório na cidade de Iaşi. Mais tarde, em 1877, começaria a trabalhar na redação do jornal Timpul, onde viria a exprimir as suas ideias e desenvolver o seu espírito polemista.

A década de 1880 foi uma época de crise e deterioração na vida do poeta, culminando na sua morte em 1889, internado em um sanatório em Bucareste. Os detalhes disso ainda são objeto de intenso debate. De 1883 – quando o colapso nervoso e outros problemas de saúde se tornam evidentes – até 1886, o poeta é tratado na Áustria e na Itália, por especialistas que conseguem ótimos resultados com os seus respectivos tratamentos. Em 1886, porém, sofre um novo colapso nervoso e, desta vez, é tratado na Romênia, por médicos romenos. É internado em um sanatório, diagnosticado com sífilis e tratado com mercúrio. Eminescu faleceu em 15 de junho de 1889, no Instituto Caritas, em Bucareste. O seu último desejo teria sido um copo de leite.

Eminescu publicou os seus primeiros poemas quando tinha apenas 16 anos. Além da sua robusta obra poética, a sua produção jornalística, literária e ensaística também é inversamente proporcional à brevidade da sua vida. A sua poesia abrange um amplo leque de temas, da natureza e do amor ao ódio e ao nada, passando pela crítica social. Seus anos de infância são evocados em muitos versos com profunda nostalgia. Eminescu compartilha com Schopenhauer certo pessimismo que só a arte é capaz de aplacar ou atenuar.

Os poemas de Eminescu foram traduzidos para mais de 60 idiomas. A sua apresentação ao público brasileiro data pelo menos da década de 1950, a julgar pelo levantamento de Ático Vilas-Boas da Mota. Segundo Vilas-Boas da Mota, quem se encarregou de publicar o primeiro texto de Eminescu no Brasil foi o filólogo Antenor Nascentes (1886-1972), em Elementos de Filologia Românica (1954).

Posteriormente, mais traduções foram feitas. Luciano Maia já verteu muitos versos de Eminescu para o português. Em 1994, publicou na Revista de Letras da Universidade Federal do Ceará uma seleção de poemas bilingue (romeno-português): “Tradução de Poemas de Mihai Eminescu (1850-1889): o poeta nacional romeno” [PDF]. O volume contém traduções de La Steaua [À Estrela], Somnoroase păsărele [Sonolentos passarinhos], Ce e amorul [O que é o amor] e Mai am un singur dor [Tenho ainda um desejo].

No Jornal de Poesia (on-line) estão publicadas as traduções de outros poemas de Eminescu realizadas por Luciano Maia. Por fim, cumpre destacar o livro Dois poetas do espaço miorítico: Mihai Eminescu e Lucian Blaga (Fortaleza, UFC, 1998), assinado por Maia. Em 2019, o Portal E.M. Cioran Brasil entrevistou Luciano Maia (confira aqui). Ver também o seu ensaio intitulado “Mocidade, amor e morte: Eminescu e Castro Alves”, in: Jornal da Poesia.

Marco Lucchesi também tem colaborado para ampliar as traduções da poesia de Eminescu no Brasil. Poliglota e fluente em romeno, o poeta e ex-presidente da ABL publicou, no site da Academia, a tradução comentada de um dos mais importantes poemas de Eminescu: Luceafărul (1883), ou “Vésper” na versão portuguesa.

Mais recentemente, a revista (n.t.) Nota do Tradutor publicou Rugaciunea unui Dac, traduzido por Rodrigo Menezes. “A Oração de um Dácio” é o poema de Eminescu que Cioran considerava mais importante para si (Nota do Tradutor, nr. 22, ano XI, vol. 1, junho de 2021).


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“Eminescu este scuza României”

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