Cioran, leitor de Nietzsche – live tertúlia no YouTube (14/08/2021)

Cioran seria um autor nietzschiano? Anti-nietzschiano? Um Nietzsche romeno do século XX? Nenhuma das alternativas anteriores? A próxima live tertúlia terá como proposta responder a essas e outras interrogações que pairam em torno da relação histórico-filosófica entre Nietzsche e Cioran.

Data: 14 de agosto de 2021
Horário: 18:00 (Brasil) | 19:00 (UTC)

ARGUMENTO

“De que serve ser conhecido se outrora não nos conheceu tal sábio ou tal louco, um Marco Aurélio ou um Nero? Não teremos existido nunca para tantos de nossos ídolos, nosso nome não terá perturbado nenhum dos séculos anteriores; que importam os que vêm depois? Que importa o futuro, essa metade do tempo, para quem adora a eternidade?”

CIORAN, História e Utopia

O espectro de Nietzsche pode ser vislumbrado nesta declaração de suprema angústia da influência: querer ser lido pelos seus “ídolos” defuntos (a ironia das aspas é necessária, pois Cioran “idolatra” Nero do mesmo modo que a Deus). O filósofo alemão é citado nesta passagem por ausência e contiguidade, situando-se, invisivelmente, a meio-caminho entre o imperador estoico e mestre do autodomínio, Marco Aurélio, e o ao imperador louco e incendiário, figura do descontrole e do pandemônio, Nero.

Na leitura de Cioran, um sábio e um louco coabitam em Nietzsche — razão pela qual nos é tão familiar e tão estranho, moderno e extemporâneo ao mesmo tempo. E a causa da sua genialidade tão sublime quanto monstruosa. “O encontro de uma flor e de um machado…” Se pudéssemos atribuir a outro autor isso que Cioran afirma de Shakespeare, só poderia ser a Nietzsche. Em “Retrato do homem civilizado”, um importante ensaio de La chute dans le temps (inédito em português) que a (n.t.) Revista Literária em Tradução publicou pela primeira vez em português, Cioran alude a Nietzsche sem nomeá-lo:

Não é significativo que o primeiro dentre os modernos a ter denunciado com vigor os males do civilizado, por idolatria da natureza, foi o oposto de um sábio? Devemos o diagnóstico de nosso mal a um insensato, mais marcado, mais atingido do que nós, a um maníaco confesso, precursor e modelo de nossos delírios. Não menos significativo parece-nos o advento mais recente da psicanálise, terapêutica sádica, empenhada em irritar os nossos males antes que acalmá-los, e singularmente experta na arte de substituir nossos mal-estares ingênuos por outros rebuscados.

“Retrato do homem civilizado”, Duas diatribes, in (n.t.) Revista Literária em Tradução, ano IX, 2º vol., nº 17, Dezembro de 2018. [PDF]

Deus e Nietzsche são dois defuntos ilustres dos quais Cioran lamenta que não possam ser seus leitores. Não para conquistar sua aprovação e ser aplaudido por eles, mas para atormentá-los e assombrá-los tanto quanto eles o assombram, exercer sobre eles tanta influenza quanto eles exercem sobre Cioran, ainda mais sendo a sua influência corruptora.

O ensaio de A tentação de existir intitulado “O comércio dos místicos” surpreende logo de cara por evocar Nietzsche — e não um místico cristão, como é de se esperar pelo título — como o modelo ideal da “soma de atitudes” sem nenhuma “vontade de ordem” ou “preocupação de unidade” que o próprio Cioran pretende encarnar. É um dos muitos exemplos em que o autor romeno conduz o leitor à sua compreensão, indiretamente, pelo détour (desvio) em Nietzsche — neste caso, de forma positiva, sendo que em outros o recurso é negativo, por diferença e contraste.

“O prior da Ordem da Santa Louca Temeridade” (Sloterdijk)

Peter Sloterdijk – leitor de Cioran, leitor de Nietzsche – é um intérprete sensível às idiossincrasias de cada um destes autores (figuras da excentricidade), intermediando um possível diálogo filosófico e, se não uma síntese, uma leitura dialética e compreensiva das vozes filosóficas – ora consonantes, ora dissonantes – de Nietzsche e de Cioran, que pertencem – em um intervalo cronológico relativamente curto – a um mesmo cenário histórico-filosófico; o filósofo alemão e o seu sucessor romeno são diferentes atores e personagens de uma mesma “dramaturgia” europeia (ateísta, niilista) dos tempos modernos…

Encontramos nos textos de Sloterdijk uma interpretação criativa e provocadora do pensamento Cioran, ela mesma idiossincrática. Tomemos como ponto de partida o seu “Pariser Buddhismus: Ciorans Exerzitien”, texto originalmente publicado em Du mußt dein Leben ändern: über Anthropotechnik (2009), e republicado duas vezes em língua francesa, com dois diferentes títulos: no Cahier L’Herne Cioran (2009), com o título “Cioran ou la parole sincère”, e na Magazine littéraire de maio de 2011 (que contém um dossiê sobre Cioran, por ocasião do centenário de seu nascimento), como “Le prieur de l’Ordre de la Sainte Folle Témérité” [O Prior da Ordem da Santa Louca Temeridade].

Utilizando-se as palavras “após Nietzsche” para situar a própria data de nascimento, como o fazia Cioran, estava-se condenado a ir mais longe. O jovem Cioran romeno não apenas seguia o conselho de Nietzsche colocando-se no topo da Ordem da Santa Temeridade (com outros especialistas da autoexposição, como Michel Leiris); ele também colocava em prática o programa que consistia em fundar a última possibilidade de respeito a si mesmo sobre o desprezo por si mesmo. Se ele podia realizá-lo, é porque apesar do carácter inabitual do seu projeto, ele possuía o espírito do tempo que o antecedeu. A virada histórica que conduziu à explicitação do latente o arrastou em seus rastros e o levou a despejar no papel coisas diante das quais qualquer autor teria recuado alguns anos antes. Nessa virada, a “palavra honesta sobre si”, que Nietzsche tinha ao mesmo tempo postulado e praticamente excluído, alcançava uma energia sem precedentes. A sinceridade se torna um modo de escritura da ausência de cuidado para consigo mesmo. Doravante não se pode tornar-se autobiógrafo sem ser autopatógrafo – isto é, sem tornar público seu registro de doenças. É sincero quem admite aquilo que lhe falta. Cioran foi o primeiro a subir a rampa e declarar: falta-me tudo – e, pela mesma razão, tudo me é demasiado.

“O prior da Ordem da Santa Temeridade”, Magazine Littéraire, maio de 2011

Paralelamente aos comentários de Peter Sloterdijk sobre o tema específico de nosso interesse, a recepção de Nietzsche por Cioran, na primeira metade do século XX, recorreremos à teoria poética de Harold Bloom acerca da angústia da influência para fundamentar nosso argumento acerca de Cioran, leitor de Nietzsche: trata-se aqui de um emblemático caso de angústia da influência, tal como proposto pelo crítico literário norte-americano.

Aangústia da influência foi e continua sendo mal interpretado, de uma maneira medíocre. Qualquer leitor capaz deste livro, o que significa qualquer um com alguma sensibilidade literária e que não seja comissário nem ideólogo, de esquerda ou direita, verá que influência-angústia não se refere tanto aos precursores quanto é uma angústia realizada no e pelo conto, romance, peça, poema ou ensaio. A angústia pode ou não ser internalizada pelo escritor que vem depois, dependendo de temperamento e circunstâncias, mas isso dificilmente importa: o poema forte é a angústia realizada. “Influência” é uma metáfora, que implica uma matriz de relacionamentos — imagísticos, temporais, espirituais, psicológicos — todos em última análise de natureza defensiva. O que mais importa (e é a questão central deste livro) é que a angústia da influência resulta de um complexo ato de forte má leitura, uma interpretação criativa que eu chamo de “apropriação poética”. O que os escritores podem sentir como angustia, e o que suas obras são obrigadas a manifestar, são as conseqüências da apropriação causa poética, mais que a sua causa. A forte má leitura vem primeiro; tem de haver um profundo ato de leitura que é uma espécie de paixão por uma obra literária. É provável que essa leitura seja idiossincrática, e quase certo que seja ambivalente, embora a ambivalência possa estar velada.

BLOOM, Harold, A angústia da influência, p. 23-24.

Vale notar que Bloom e Cioran, que nunca mencionaram um ao outro, coincidem em mais de um ponto, e não pouco relevantes: ambos exaltam Shakespeare como autoritas poética inigualável em matéria de sabedoria trágica – além de serem, cada qual à sua maneira, casos de consciência gnóstica da cultura filosófica e literária do século XX.

“A Verdade? Encontra-se em Shakespeare”, assevera o autor dos Silogismos da amargura; “um filósofo não poderia apropriar-se dela sem explodir com seu sistema.” A Verdade é bela e fulminante, violenta, arrasadora, perigosa como o fio da navalha, sublime e fatal como o “encontro de uma rosa e de um machado…”. (Silogismos da amargura)

O grande escritor moderno pós-Shakespeare, para Cioran, é Dostoiévski. Branka Bogavac Le Comte lhe pergunta se ele “o coloca inclusive acima de Shakespeare”. “Sim, mesmo acima de Shakespeare. Dostoiévski é o escritor que mais me impressionou, que foi mais longe no exame do homem, que mais soube explorar o bem e o mal. Ele tocou o mal da maneira mais profunda, como essência do homem, mas ao mesmo tempo a inspiração nele é dupla. Para mim, Dostoiévski é O ESCRITOR”, responde ele à entrevistadora, que lhe pergunta em seguida: “Após Dostoiévski, quais são os outros escritores que você ama?” Cioran responde: “Nietzsche, pois foi até o fim em tudo o que empreendeu. Pelo seu lado excessivo.”

Eis os motivos, argumentos e intenções teóricas que conformam o escopo temático desta live tertúlia sobre Cioran, leitor de Nietzsche:

  • Primeiramente, desconstruir e desmitificar 2 preconceitos, duas ilusões opostas e complementares: por um lado, a suposição de que Cioran seria nada mais que um epígono de Nietzsche, um “pós-nietzschiano” menor (“de segunda categoria”), um continuador (se não um êmulo) do filósofo alemão no século XX leitura reducionista e injustificada que Susan Sontag parece reforçar. Mais sensível do que ela, muito embora nunca tenha mencionado Cioran (se é que chegou a conhecer sua obra), é outro crítico norte-americano (ele também judeu), Harold Bloom; por outro lado, a suposição ingênua de que Cioran seria o autor de uma originalidade inédita e inaudita, como uma espécie de “exilado metafísico” na eternidade de sua própria solidão, sem sofrer a influência de ninguém e de nada, nem de Deus, como se não houvesse existido história antes dele. Na verdade, esta segunda desleitura é uma mistificação e/ou mitologização que se deve em grande medida à autoimagem que o próprio autor se forja, sendo incessantemente projetada através de seus textos “autopatográficos” (Sloterdijk): um artifício poético e retórico com o intuito de assinalar a sua singularidade irredutível, para além ou aquém das influências (e são legião).
  • Apresentar Cioran como “poeta forte” no século XX (como Nietzsche no XIX), na acepção bloomiana.
  • Demonstrar como muitos dos expedientes poéticos e dispositivos retóricos elencados por Harold Bloom no processo da angústia da influência poética, historicamente considerada na transmissão entre um grande antecessor para um grande sucessor (“poetas fortes”), podem ser verificados no discurso de Cioran sobre Nietzsche. Harold Bloom lista esses expedientes e dispositivos, designados tecnicamente por vocábulos gregos, e resume cada um deles:

a) Clinamen, leitura distorcida ou apropriação mesmo; tomo a palavra de Lucrécio, onde ela significa um “desvio” dos átomos para possibilitar a mudança no universo. O poeta desvia-se de seu precursor, lendo o poema dele de modo a executar o clinamen em relação a ele. Isso aparece como um movimento corretivo em seu próprio poema, que sugere que o poema do precursor seguiu certo até um determinado ponto, mas depois deve ter-se desviado, precisamente na direção em que segue o novo poema.

b) Tessera, completude e antítese; tomo a palavra não da fabricação de mosaicos, onde ainda é usada, mas dos cultos de mistério antigos, onde queria dizer um sinal de reconhecimento, o fragmento, digamos, de uma pequena jarra, que com os outros fragmentos reconstituiria o vaso. O poeta “completa” antitéticamente seu precursor, lendo o poema-pai de modo a reter seus termos, mas usando-os em outro sentido, como se o precursor não houvesse ido longe o bastante.

c) Kenosis, dispositivo de decomposição semelhante aos mecanismos de defesa que nossa mente emprega contra as compulsões de repetição; é portanto um movimento de descontinuidade em relação ao precursor. Tomo a palavra de São Paulo, onde quer dizer a submissão ou esvaziamento de Jesus por si mesmo, quando aceita a redução de status, de divino para humano. O poeta que vem depois, aparentemente esvaziando-se de seu próprio estro, sua divindade imaginativa, parece submeter-se, como se estivesse deixando de ser poeta, mas esse refluxo é realizado em relação ao poema de refluxo do precursor de um modo que também se esvazia o precursor, e assim o poema de esvaziamento posterior não é tão absoluto quanto parece.

d) Daemonização, movimento para um Contra-Sublime personalizado, em relação ao Sublime do precursor; tomo o termo do uso neoplatônico generalizado, onde um ser intermediário, nem divino nem humano, entra no adepto para ajudá-lo. O poeta que vem depois abre-se para o que acredita ser um poder no poema-pai que não pertence ao pai mesmo, mas a uma gama de ser logo além desse precursor. Ele faz isso, em seu poema, colocando a relação da obra com o poema-pai de modo a desfazer pela generalização a unicidade da obra anterior.

e) Askesis, movimento de autopurgação, que se destina a atingir um estado de solidão; tomo o termo, por mais geral que seja, sobretudo da prática de xamãs pré-socráticos como Empédocles. O poeta que vem depois não passa, como na kenosis, por um movimento revisionário de esvaziamento, mas de redução; abre mão de parte de seu dom humano e imaginativo para separar-se de outros, incluindo o precursor, e faz isso em seu poema colocando-o em relação ao poema-pai de modo a fazer com que esse poema também passe por uma askesis; o talento do precursor é igualmente truncado.

f) Apophrades, ou retorno dos mortos; tomo a palavra dos tristes e infelizes tempos atenienses em que os mortos voltavam a habitar as casas onde haviam morado. O poeta que vem depois, em sua própria fase final, já assoberbado por uma solidão imaginativa que é quase um solipsismo, mantém seu poema de novo tão aberto à obra do precursor que a princípio podemos acreditar que a roda completou um círculo completo, e que estamos de volta ao inundado aprendizado do poeta posterior, antes que sua força começasse a afirmar-se nas proporções revisionárias. Mas o poema é agora mantido aberto ao precursor, quando antes estava aberto, e o efeito fantástico é que a realização do novo poema o faz parecer a nós não como se fosse o precursor a estar escrevendo-o, mas como se o próprio poeta posterior houvesse escrito a obra característica do precursor.

BLOOM, Harold, A angústia da influência: uma teoria da poesia. Trad. de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Imago, 2002. p. 64-65.



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