“Um caso sério: Cioran entre psicanálise e filosofia”, de Giovanni Rotiroti. O novo título da Átopos Editorial

Especialmente editado para o público de língua portuguesa, o livro que a Átopos Editorial acaba de publicar é um ensaio hermenêutico transdisciplinar, na intersecção entre psicanálise e filosofia, sobre o caso de consciência que se revela na obra do autor romeno de expressão francesa.

São, mais precisamente, três ensaios complementares que configuram um plexo temático: trata-se da relação vida-obra de Cioran de um ponto de vista psicanalítico, em diálogo com a filosofia e outras áreas do saber (antropologia, teologia, literatura, sociologia e crítica cultural).

O primeiro (e mais longo) ensaio se divide em quatro capítulos cujos títulos são emblemáticos do psiquismo trágico (e místico) de Cioran: “A revelação da dor”, “A tentação do suicídio”, “Tempo e eternidade” e “Tédio profundo”.

O segundo ensaio analisa o impacto sobre o jovem estudante romeno, na década de 1930, d’O mal-estar na civilização, de Freud. Rotiroti identifica ecos da “pulsão de morte” (Todestrieb) freudiana na noção de “morte imanente à vida” tematizada pelo jovem Cioran em Nos cumes do desespero (1934).

O terceiro ensaio, por fim, de cunho mais biográfico, aborda a amizade inaudita entre Cioran e Benjamin Fondane (1898-1944), iniciada em uma Paris ocupada pelas forças nazistas, na década de 1940, e tragicamente interrompida pela morte do poeta em Auschwitz, em 2 de outubro de 1944.

Rotiroti se põe a auscultar a psique de Cioran através dos seus escritos (romenos e franceses, incluindo Cahiers e correspondência epistolar). Podemos aproximar a sua abordagem do intuicionismo de Bergson, que “se propõe apegar-se o mais possível ao original mesmo, aprofundar-lhe a vida e, por uma espécie de auscultação espiritual, sentir palpitar sua alma.” Cioran nasceu no exílio: um romeno “transplantado” na periferia do Império Austro-Húngaro, alienado de sua identidade romena, ao mesmo tempo autóctone e “forasteiro” em sua própria terra, a Transilvânia. O “inconveniente de ter nascido”, na percepção do nosso autor, é inseparável do inconveniente de ser romeno.

O filósofo-psicanalista nos conduz pelos labirintos da psique de Cioran, mostrando como este e outros dados biográficos são cruciais para compreendermos a gênese da sua obra, os móveis profundos que a animam, e particularmente os “cumes do desespero” de sua juventude, o extremismo desesperado e febril que marcou os seus anos universitários.


ROTIROTI, Giovanni, Cioran entre psicanálise e filosofia. Ensaios. Trad. de Rodrigo Inácio Ribeiro Sá Menezes. São Paulo: Átopos Editorial, 2023 (e-book PDF/Kindle).

Formato: 21×14 cm.
262 páginas

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Leia o prefácio na íntegra no site da Átopos Editorial


CONTEÚDO:

Um caso sério (prefácio) – Rodrigo Inácio R. Sá Menezes

I. Cioran entre psicanálise e filosofia
II. O mal-estar na civilização segundo o jovem Cioran
III. Cioran e Fondane: uma amizade inaudita

Índice remissivo


SOBRE O AUTOR:

Com formação filosófica e psicanalítica, Giovanni Rotiroti é romanista, tradutor do romeno e professor de Língua e Literatura Romena na Universidade de Nápoles “L’Orientale”. As suas investigações na área dos estudos romenos prezam por uma abordagem multidisciplinar e comparativa, em diálogo com a literatura europeia do século XX e contemporânea, com ênfase nos contextos de antes e depois da cesura representada por Auschwitz. Rotiroti tem contribuído para o desenvolvimento de metodologias críticas de tradução do romeno para o italiano a partir de obras literárias de importantes nomes da literatura romena.

Giovanni Rotiroti tem inúmeros livros publicados, nos quais trata de autores romenos como Ion Luca Caragiale, Eugène Ionesco, Dan Botta, Mircea Eliade, Urmuz, Tristan Tzara, Benjamin Fondane, Gherasim Luca, Nichita Stănescu e Emil Cioran. Sobre Cioran, publicou Il demone dela lucidità: il ‘caso Cioran’ tra psicanalisi e filosofia (Rubbettino, 2005) e Il segreto interdetto: Eliade, Cioran e Ionesco sulla scena comunitaria dell’esilio (Edizioni ETS, 2011). Tem publicado artigos acadêmicos, prefácios e ensaios sobre Cioran, na intersecção entre filosofia, literatura e psicanálise, em volumes coletivos e diversos periódicos, na Itália e muitos outros países.


Átopos: a paixão do insólito

Átopos Editorial nasce em 2023 tendo como propósito — para fazer jus ao nome — a busca do insólito no pensamento e nas letras — em filosofia, literatura, poesia.

Convencidos de que o insólito, por sua própria definição, foge ao habitual, ao convencional e ao oficial, nos dedicamos a prospectá-lo por veredas inauditas, às margens, nas periferias, nos becos, nos subsolos, em lugares inexplorados que são heterotopias privilegiadas: espaços de encontro e diálogo na alteridade e na diferença.

Seja na literatura, na poesia ou na filosofia, o insólito tem o poder de nos arrancar ao automatismo da experiência ordinária e nos fazer vislumbrar o paradoxo que consiste na estranha familiaridade das coisas, ou, inversamente, na sua familiar estranheza (unheimlich).

Em busca do insólito no pensamento e nas letras, encontramos no Leste europeu, e particularmente na Romênia, um rico manancial cultural e espiritual. Átopos Editorial tem, no seu DNA, um interesse especial por autores romenos e do Leste europeu em geral, contemporâneos e de épocas passadas.


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