“A verdadeira felicidade” – Ramana Maharshi | Corvo Seco ▶️

“O último santo”, foi o título que Merezhkovski deu a um estudo sobre Serafim de Sarov escrito antes da guerra de 14.
Gostaria de escrever um artigo com o mesmo título sobre Ramana Maharshi. Existe, sempre haverá um último santo. (Os ocidentais insistiam em lhe fazer perguntas sobre questões sociais. Como se coubesse a um santo resolvê-las. Um santo não é progressista nem reacionário, está acima dessas querelas. Não está interessado na miséria imediata do homem, mas em sua miséria intrínseca; é esta que que se dedica a remediar, se é que ele pretende remediar alguma coisa, porque na maioria das vezes se limita a constatá-la e torná-la conhecida. Basicamente, abre os olhos das pessoas: combate a cegueira espiritual. Um ponto é tudo. Ele não tem soluções, nem respostas. Oferece um exemplo que é… inimitável.)

CIORAN, Cahiers: 1957-1972. Paris: Gallimard, 1997, p. 843. Trad. de Rodrigo Menezes.

Bhagavan Sri Râmana Mahârshi (1879 – 1950), foi um mestre de Advaita Vedanta e famoso santo do sul da Índia, considerado um dos maiores sábios de todos os tempos.

A essência de seus ensinamentos é o Atma Vichara, “auto-inquirição” ou “auto-investigação”. Seu objetivo é eliminar as falsas ideias sobre o ego, levando-o à realização não-dual (advaita) da Realidade.

Ātmā Vicāra (विचार), é um termo sânscrito que significa o processo de investigar quem realmente somos, a investigação sobre a natureza do ser. Esta técnica é a que melhor exemplifica o Jñāna Yoga, o Yoga do conhecimento de si. A meditação da auto-indagação é a constante atenção para a consciência interior do “eu” ou “eu sou”, recomendado por Ramana Maharshi como o maneira mais eficiente e direta de descobrir a irrealidade do pensamento “eu” .

Atma-Vichara não deve ser considerada uma prática de meditação que ocorre em certas horas e em certas posições; mas que deve continuar durante as horas de vigília, independentemente do que se esteja fazendo. Sri Ramana Maharshi não via conflito entre o trabalho e a auto-investigação e afirmava que com um pouco de prática isso poderia ser feito em quaisquer circunstâncias.

“Por que quem dorme não perde seu ego, se durante o sono não existe ego?
O sono além de não ser a porta da libertação, constitui também um obstáculo a ela, se o buscador do ser adormece enquanto empenhado na busca, tem que recomeçar seu sadhana na de novo ao despertar. Somente se ele ficar bem desperto todo o tempo e persistir ativamente na busca até que a revelação do Ser se realize ele se libertará do cativeiro. O sábio entra no estado sem ego mediante a extinção irreversível e total do ego, esse ego é a ignorância primordial.
Diz o sábio: A felicidade do sono é como a luz fraca da lua, que passa através de uma densa folhagem e ilumina o chão, mas a felicidade do sábio é como ao luar pleno que bate sem obstáculo em campo aberto”.

“Ao compreender em si mesmo o Ser, o Atman, miríades de seres, a luz clara do Ser, brilhará internamente. Em Verdade, isto é a verdadeira manifestação da Graça. A morte do eu falso é a revelação da suprema Bem-aventurança. Portanto, fique tranquilo e conserve silenciosa atitude; de palavra, mente e corpo. Aquilo que é auto refulgente surgirá internamente. Esta é a experiência Suprema. O medo cessará. Isto é o oceano ilimitado da perfeita felicidade”.

“Sempre que surgir um pensamento, não se deixe levar por ele. O Ser não está deprimido, nem é imperfeito, ele é sempre feliz. O sentimento contrário é um mero pensamento, que na verdade não tem resistência. Livre-se dos pensamentos”.

Ramana Maharshi


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