Nos acessos de desespero, o único recurso salutar é o apelo a um desespero ainda maior. Quando nenhuma consolação razoável é eficaz, é preciso agarrar-se a uma vertigem que rivaliza com a sua, que chega até a superá-la. A superioridade que a negação tem sobre qualquer forma de fé explode nos momentos em que o desejo de acabar com tudo é particularmente forte. Ao longo da minha vida, especialmente na minha juventude, A Oração de um Dácio me ajudou a resistir à tentação de acabar com tudo. Talvez valha a pena mencionar que as últimas páginas do Breviário de Decomposição, meu primeiro livro escrito em francês, estão, pelo tom e pela violência, muito próximas dos excessos do Dácio. Muitos ocidentais captaram uma nota sombria na literatura romena, estranha a um povo considerado frívolo. Sem dúvida esta nota existe e é atribuída, por uma razão específica, a condições históricas, à evidência ininterrupta de um país à mercê deste ou daquele império. O fato é que naquelas páginas tudo acaba mal, tudo é abortado, e os fracassos ficam por conta do Destino, a instância suprema dos vencidos. Que povo! O mais passivo, o menos revolucionário que se possa imaginar, o mais sábio, no bom e no mau sentido da palavra, aquele que dá a impressão de que, tendo compreendido tudo, não pode sofrer ou cair numa ilusão. Quanto mais se vive, mais se repete que apesar de ter vivido anos e anos longe deles, nunca se escapará de um infortúnio original, de um legado fatal que arruína toda veleidade de esperança. A Oração de um Dácio é a expressão exasperada e extrema do nada valáquio, de uma maldição sem precedentes, que atinge um canto do mundo sabotado pelos deuses. Este Dácio, evidentemente, fala em seu nome, mas sua desolação tem raízes profundas demais para ser reduzida a uma fatalidade individual. Na verdade, nós viemos sempre Dele, perpetuamos sua amargura e raiva, sempre cercados pela nuvem de nossas derrotas.[1]

Este texto, intitulado Rugăciunea unui Dac, no original romeno, foi escrito em francês por Cioran, a pedido de Marin Mincu, no final de 1988, para celebrar Eminescu na Itália. A partir dessa passagem, Cioran interpreta a “negatividade da negação” da Fenomenologia do Espírito como não reconduzível à negatividade provisória da dialética hegeliana. Aqui, não está em ação uma Aufhebung sempre pronta para transformar o negativo em positivo. Com Rugăciunea unui Dac nos encontramos em outro nível, no nível de uma desolação que Cioran diz ter herdado do passado ancestral do povo romeno. Cioran sublinha o estatuto singular do dizer poético de Eminescu como absoluto, como a condição mais “original”, tragicamente existencial, das raízes demasiado profundas do nada valáquio. Ele afirma a fratura original que existe entre o conhecimento filosófico e o objeto inatingível do desejo (dor) que a poesia romântica de Eminescu pareceria possuir em si mesma.
Quando Cioran escreveu essas palavras vibrantes sobre A Oração de um Dácio, de Eminescu, talvez ele também estivesse pensando no Psalmul Leprosului de seu amigo Fondane, perseguido e terrivelmente assassinado pela ideologia antissemita espalhada por toda a Europa. O Salmo do Leproso de Fondane tem, sem dúvida, alguns pontos de contato com a Oração de um Dácio, de Eminescu, como Paul Celan já havia notado quando compôs em Bucareste primeiro Tangoul Morţii e depois a versão definitiva de Todesfuge.[2] Neste poema publicado em 1917 , Fondane reformulava o tema da teodiceia de Jó em que aparecia a “presença” de uma espécie de “oração de pedido” ou “súplica invocativa”, onde ressoava a antiga questão bíblica sobre o sentido do sofrimento do justo e na justificação do mal no mundo. É uma questão, em Fondane, onde a poesia se entrelaça com a oração. Só em aparência O Salmo do leproso de Fondane se manifesta como uma paródia de oração com intenções destrutivas e blasfemas, beirando o niilismo gnóstico e desesperado de Eminescu, quando na realidade trata-se aí do reconhecimento do mistério abismal que envolve a palavra do Outro, o totalmente Outro, cuja manifestação aterrorizante e numinosa se retira para o misterioso abismo do “nada”. Ou seja, aquilo que Cioran designará posteriormente, a partir de Eminescu, o “nada valáquio”.
Leon Volovici, um dos principais estudiosos do antissemitismo e do nacionalismo romenos, relata, em seu artigo intitulado Epilogul unei prietenii (O epílogo de uma amizade), algumas informações relativas à amizade que fatalmente ligaria Cioran ao grande poeta e filósofo judeu-alemão-romeno Wechsler-Fundoianu, que ele conheceria pessoalmente durante a ocupação nazista em Paris, e relativas ademais à tentativa inútil de Cioran, junto com o filósofo Stéphane Lupasco e Jean Paulhan, para ajudá-lo e fazê-lo escapar do destino fatídico que o levaria horrivelmente a Auschwitz. “Cioran conhecia todos os detalhes da prisão de Fondane em 7 de março de 1944. Junto com outros dois amigos do poeta, Stéphane Lupasco e Jean Paulhan, Cioran havia feito várias iniciativas junto às autoridades francesas. Os três homens conseguiram obter sua libertação, mas não a da irmã do poeta, Lina Pascal […], de modo que Fondane preferiu compartilhar o destino da irmã, e ambos foram deportados para Auschwitz em 30 de maio, no penúltimo comboio enviado àquele campo de concentração”.[3]
Cioran, que tentou sem sucesso libertar Fondane desse terrível destino de morte, lembra-se dele assim em seus Exercícios de admiração:
O rosto mais sulcado, mais marcado que se possa imaginar, um rosto de rugas milenares, de modo algum paralisadas pois animadas pela aflição mais contagiante e mais explosiva. Não me cansava de contemplá-las. Jamais vira antes uma tal harmonia entre o parecer e o dizer, entre a fisionomia e a palavra. Para mim, é impossível pensar na menor frase de Fondane sem perceber imediatamente a presença imperiosa de seus traços.
Ia visitá-lo frequentemente (conheci-o durante a Ocupação), sempre com a intenção de ficar apenas uma hora em sua casa, e passava a tarde lá, por minha culpa naturalmente, mas também por culpa dele: adorava falar e eu não tinha a coragem, menos ainda o desejo de interromper um monólogo que me deixava exausto e encantado. No entanto, eu é que fui inesgotável na primeira visita que lhe fiz com o propósito de lhe fazer perguntas sobre Chestov. […] Talvez não seja inútil assinalar aqui que, entre as duas guerras, Chestov era muito conhecido na Romênia e que lá seus livros eram lidos com mais entusiasmo que em outros lugares. Fondane não entendia nada e ficou muito surpreso quando soube que, no país de onde vinha, tínhamos seguido o mesmo percurso que ele… Não havia aí algo de perturbador e muito mais do que uma coincidência?[4]
Colocando as reticências antes de sublinhar, com o ponto de interrogação, a “coincidência desconcertante” do interesse comum pela filosofia de Chestov, Cioran se referia implicitamente ao fato de que seu livro intitulado Cartea amăgirilor (O livro das ilusões) aparecera na Romênia no mesmo ano em que La Conscience malheureuse, de Fondane, havia sido lançado na França, ou seja, em 1936. O que, à época, não foi esquecido pela imprensa romena. Avaliando negativamente o volume de Cioran, Dolfi Trost – militante da extrema esquerda e das vanguardas artístico-literárias (imediatamente após o fim da guerra, ele será o futuro inventor, junto com Gherasim Luca, do “amor não-edipiano”) – havia apontado que Cioran fazia parte dos pensadores que, como Fondane, no século XX, ilustraram o pensamento de Chestov, afirmando que “se as circunstâncias históricas na Romênia tivessem sido diferentes” em relação às da França – Trost se refere à virada reacionária e xenófoba da vida política na Romênia –, o volume de Cioran “teria sido de alguma utilidade. Em primeiro lugar, ele teria mostrado, sem ironia, como os problemas não são colocados; em segundo lugar, teria envolvido a atenção do leitor em algumas questões apaixonadas […]. Mas agora tal leitura só contribui para o aumento dos anarquistas e dos desesperados, criando confusão e desorientação.”[5] Segundo Trost, embora trate de questões muito semelhantes às do livro de Cioran, La Conscience malheureuse, de Fondane, “está mais de acordo com as novas diretrizes da filosofia marxista.”[6]
Embora tivesse deixado seu país de origem há muito tempo, Fondane não desconhecia o que estava acontecendo naqueles anos na Romênia e conhecia Cioran de nome antes de conhecê-lo pessoalmente, na França. Como prova do fato de que o autor de La Conscience malheureuse leu – ou pelo menos soube de – alguns artigos delirantes de Cioran enviados de Berlim para serem publicados em Vremea, a partir de 1934, nos quais se fazia a apologia da ditadura nazista na Alemanha,[7] Fondane, como porta-voz dos estudantes romenos residentes no estrangeiro, escreveria, de Paris, poucos meses depois dos artigos de Cioran, estas palavras em que denunciava a mistificação da revolução nazi ao incitar a luta e a resistência: “Os estudantes romenos, residentes no estrangeiro, têm tentado romper o estreito círculo do fatalismo histórico que nos leva a imitar hoje a desordem e o absurdo da Alemanha. Outras condições históricas nos aguardam. […] Em primeiro lugar, a ofensiva fascista deve ser evitada; sabe-se que é iminente; seu papel destrutivo é conhecido: a proclamação da pobreza como ideal, a indústria humana suprimida, o fechamento das fronteiras, a falsificação do dinheiro, o restabelecimento do escambo primitivo; a idade das cavernas não está longe; o que mais nos resta esperar senão a inquisição, a escravidão, o arbitrário: este é o programa do fascismo de amanhã na virada da guerra internacional. […] A luta que nos espera é decisiva.”[8]
Não é tampouco uma coincidência que, em Paris, em plena ocupação nazista, Fondane aborde imediatamente a questão candente de Hitler e da Alemanha Nacional-Socialista nos primeiros encontros com Cioran. Cioran relata o evento da seguinte forma: “Guardo a lembrança muito nítida de uma de minhas primeiras visitas, durante a qual, após ter enumerado as vertiginosas taras de Hitler, descrevera-me, como um visionário, a derrocada da Alemanha, e com tantos detalhes que imediatamente pensei estar assistindo a um delírio. Era apenas uma constatação antecipada.”[9]
Fondane sabia também que Cioran, em seu livro “revolucionário”, Schimbarea la față a României [A Transfiguração da Romênia], havia elogiado o “messianismo” de Lênin, Hitler e Mussolini, além do judeu revolucionariamente animado por reivindicações e imperativos de justiça social, e que estava convencido de que o único sistema de governo que poderia salvar a Romênia da miséria social e da corrupção política, nas quais o país estava afundando, seria a “ditadura”. Para Cioran, a ditadura representava uma possibilidade de “avançar”, uma aceleração do ritmo histórico para que a modernização e a industrialização do país pudessem finalmente realizar-se. Para Cioran, era necessária uma “revolução permanente” que fanatizasse as massas juvenis estudantis, impondo-lhes impusesse um espírito espartano saudável e entusiasmado à custa do sacrifício da liberdade democrática:
Por mais criticável que seja o hitlerismo, e por mais estreita e particularista que seja a ideologia nacional-socialista, o fato de que na nova Alemanha os jovens estão organizados tão esplendidamente, que têm uma missão tão vital e ativa na nação e que, através do nazismo, toda uma geração tenha sido salva do desespero, me faz fechar os olhos para as inúmeras impossibilidades da teoria. Afinal, a doutrina não é de grande importância. Se eu visse uma juventude comunista tão dinamizada quanto a alemã, por que deveria reprimir a minha admiração? As ideias não têm grande valor em si mesmas. […] O estado totalitário é a única armadura capaz de proteger a Romênia da falência. O futuro terá de reservar à Romênia uma lição de energia e frenesi, que ela nunca imaginou ou sonhou. A ditadura feita do consenso popular é criativa. É evidente que, subjetivamente, preferiríamos viver na França e não na Rússia ou na Alemanha. Mas, quando se trata de um destino ou de uma missão, devemos sacrificar uma liberdade que, boa hoje, seria fatal para nós amanhã. No entanto, a juventude romena se depara com um grande problema, pateticamente grande. Alguns jovens terão coragem, outros não. Quem o tiver, também terá o direito de perturbar a tranquilidade dos outros. É apenas por esta razão que se fala de um terror frutífero no estado totalitário.[10]
Aos vinte e quatro anos, além de hitleriano, mussoliniano, leninista e simpatizante da Legião de Codreanu, era também trotskista, ou seja, provavelmente encarnava a paixão áspera da Realpolitik revolucionária do século XX, em um sentido totalitário e totalitarista. Hegel e Spengler foram fundamentais em sua formação filosófica inicial.
De lados politicamente opostos aos de Cioran, mas não menos revolucionário à esquerda, Gherasim Luca – que havia atacado duramente este artigo de Cioran na imprensa de 1935 – afirmara que o filósofo da Transilvânia estava realmente confundindo a o evento-verdade da “Revolução de Outubro”, ou seja, a marxista-leninista, com o pseudo-evento revolucionário, ou seja, com a mentira da “Revolução Nacional Socialista” de Hitler ou a “Revolução Legionária” prometida por Codreanu. Como mostra o artigo jornalístico intitulado “Infiltrados”,deGherasim Luca,[11] o erro de Cioran foi que ele não quis verdadeiramente ver – embora criticasse o “particularismo da ideologia nacional-socialista” fundamentalmente racista em seu artigo – aquela “irracionalidade” tão vital e pseudo-subversiva do nazismo era toda condensada no antissemitismo, e que de fato a revolução da Legião de Codreanu era um “falso revolucionismo”. Os nazistas na Alemanha, como os legionários na Romênia, eram endemicamente antissemitas e acreditavam cegamente no “complô judaico mundial”.
Em Paris, Fondane, talvez muito mais do que outros intelectuais romenos da extrema esquerda, engagés, entendeu que o jovem Cioran era um “irracional” desviado, permeado por um espírito de revolta verdadeiramente deslocado. De fato, o próprio Fondane se colocou naqueles anos febris – em que o nazismo e o stalinismo paralisavam a maioria das consciências intelectuais – a questão crucial sobre a posição que o escritor deveria tomar diante da revolução. Sua posição, na época, no panorama do pensamento francês, era muito difícil de se manter porque acreditava que Hitler não era a personificação dos valores do irracional, mas – como Adorno e Horkheimer afirmariam mais tarde na Dialética do Esclarecimento – representava o lado mais monstruoso da racionalidade objetivante, o resultado mais terrível do vasto processo de racionalização da História.[12]
Por ocasião do Congresso Internacional de Escritores realizado em Paris, em 1935, imediatamente após escrever o artigo Apelul Studenţimi (Apelo aos Estudantes), Fondane, em um discurso que não pôde proferir durante a assembleia, foi naturalmente crítico de Hitler, mas acima de tudo atacou duramente o marxismo-leninismo dogmático de inspiração soviética que não levava em conta a liberdade do espírito e os valores emancipatórios da arte. Nem revolução, nem reação para Fondane, mas investigação inesgotável, sem alças, tão-somente pelos meios que a arte concede, sem as ferramentas pervertidas da razão: “Não pretendo defender a irresponsabilidade do escritor – mas quero dizer que ele luta, luta e morre – luta e morre por uma figura do espírito a quem foi chamado – precisamente no interesse da cidadania – que lhe dá sentido”.[13]
A posição de Fondane é a de afirmar a própria ação e situar o pensamento contra a corrente, procurando manter a independência e a liberdade de consciência para além de qualquer cálculo instrumental ou decisivo. Perante a revolução, o escritor deve colocar-se sempre numa posição crítica vigilante, deve ser capaz de identificar, a partir da sua posição singular, as forças que só aparentemente se declaram “revolucionárias”, para melhor denunciar ou desmistificar esses impulsos reacionários que na realidade são animados tão-somente pela contrarrevolução e pela lógica perversa do poder: “Não, o escritor não é um homem de ação; refiro-me a um homem que age diretamente sobre paixões superficiais; sua atividade se dá a longo prazo, é mediada, visa não o social, mas o individual; e para o indivíduo, não de paixão superficial em paixão superficial, mas de região profunda em região profunda. Nesse sentido, tem-se o direito de dizer que o artista é humano; é impróprio chamá-lo de humanista.”[14] O artista é “humano” porque, segundo Fondane, é marcado por uma “ferida profunda que não cessa de envenená-lo”. Inspirado nos ditames psicanalíticos do Mal-estar na civilização, de Freud, Fondane afirma que o artista “deve tomar para si e viver os tormentos, as angústias, os crimes dos homens; deve viver até o fim o sadomasoquismo da humanidade torturada pelas proibições coercitivas da ética”, aceitando sobretudo o traço “demoníaco” da poesia.[15] O poeta não deve apenas ser capaz de encarnar essa experiência abissal em sua ferida, mas também ser capaz de testificá-la na tonalidade emotiva fundamental da poesia.
Expressão do tédio profundo e do absurdo da existência – também em termos de denúncia da crueldade causada pelos aberrantes programas sociais e políticos de fundo antissemita que, durante sua vida, Fondane teve que sofrer na própria pele não só na Romênia como também na França –, L’expérience du gouffre tem “origens distantes” segundo Cioran, e essas origens não são alheias à província moldava de “desolado encanto”, com a “insustentável” terra do coração do poeta:
Vários leitores do seu Baudelaire ficaram impressionados com o capítulo sobre o tédio. Quanto a mim, sempre fiz uma relação entre sua predileção por esse tema e suas origens moldávias. Paraíso da neurastenia, a Moldávia é uma província de um encanto desolado verdadeiramente intolerável. […] Fondane citava muito os versos de Bacovia, o poeta do tédio moldávio, tédio menos refinado mas bem mais corrosivo que o spleen. Para mim, é um enigma que tantas pessoas consigam não morrer por sua causa. Como se vê, a experiência do “abismo” tem origens longínquas.[16]
Em Paris, durante a ocupação nazista, Cioran vai se “converter” ao tédio fondaniano pouco antes de finalmente adotar a língua francesa:
Acho que não teria me interessado pelos franceses se eles não tivessem estado tão entediados ao longo de sua história. Mas seu tédio profundo é infinito. É o profundo tédio da clareza. É o cansaço das coisas compreendidas.
Enquanto para os alemães as banalidades são vistas como a honrável substância da conversa, os franceses preferem uma mentira bem dita a uma verdade mal formulada.
Um povo inteiro doente de cafard. Aqui está a palavra que é mais frequente tanto no mundo bonito quanto na baixa sociedade. O cafard é o tédio psicológico ou visceral – é o instante invadido por um vazio imediato, sem razão –, ao passo que o tédio é a extensão no espiritual de um vazio imanente ao ser. Em comparação, Langeweile é apenas uma ausência de ocupação.[17]
Nesta passagem, Cioran, sem abandonar as notas de Spengler do Declínio do Ocidente, é um pensador agora muito distante do autor da Transfiguração da Romênia, um livro que não é apenas spengleriano, mas sobretudo “naeioneschiano”.[18] O encontro com o poeta e filósofo Fondane, em Paris, tinha sido para Cioran decididamente um sinal na direção oposta ao do encontro em Bucareste com o seu mentor, Nae Ionescu, que o arrastaria, a partir do verão de 1933, para a sua aventura política.[19] O retrato de Fondane é completamente diferente se comparado ao exercício de admiração que o discípulo havia dedicado a Nae Ionescu na imprensa em 1937.[20] Cioran percebeu que ao identificar-se com a imagem de absoluto do desejo do mestre, havia evitado a si mesmo como puro desejo de nada. Dada a impossibilidade lógica de representar a imagem ambivalente de uma Romênia ao mesmo tempo amada e odiada, e de unificá-la com a assunção do próprio desejo, restará apenas a Cioran reiterar a negação e a rejeição do desejo do mestre. A esta altura, a verdade do desejo como verdade do sujeito deve ser buscada em outro lugar, além da miragem ideológica oferecida pela identificação com a “missão” revolucionária. Teremos que esperar até que a questão abismal, vinda de uma autêntica “revolta metafísica”, seja refletida por novos espelhos da tragédia, como so de Benjamin Fondane, durante a ocupação nazista de Paris, para tornar a estar à altura do próprio coração e reviver, em francês, a mesma inquietação angustiante do primeiro livro, Pe culmile disperării.[21]
No espelho de Fondane, em Paris, Cioran não encontrará mais o “fantasma do pai”, como o reflexo de Nae Ionescu transfigurado na imagem autoritária de Hitler em Berlim, na qual fora chamado a se perder-se, mas encontrará um “irmão mais velho” que poderá expor a sua vida à dura protuberância da catastrófica realidade da História, diante daquele limite intransponível que o próprio Fondane enfrentará angustiadamente, diante do Inelutável:
[…] vivia quase na certeza de uma catástrofe iminente. Julgava-se ameaçado, e o estava, mas podemos supor que interiormente se resignara a sua condição de vítima, pois sem essa misteriosa cumplicidade com o Inelutável, e sem uma certa fascinação pela tragédia, não conseguiríamos explicar sua recusa de qualquer precaução, sendo a mais elementar a de mudar de residência. […].[22]
Encontrar o Inelutável em Paris não foi uma trágica mortificação da vida para Fondane, mas o testemunho vívido de “uma clarividência excepcional”. Cioran estava diante de um homem que não era nada “ingênuo”, mas de um homem que era “sensível como ninguém aos casos extremos, aos recônditos fascinantes de certas sensibilidades”.[23] Fondane era um interlocutor incansável que nunca encerrava discursos, mas sabia deixá-los em aberto, porque sabia, no fundo, que era impossível fechá-los:
Para ele, procurar era mais que uma necessidade ou uma obsessão, procurar sem desistir era uma fatalidade, a sua fatalidade, perceptível até em sua maneira de pronunciar, especialmente quando se entusiasmava ou oscilava, sem trégua, entre a ironia e a sofreguidão. Sempre me censurarei por não ter anotado suas frases, seus achados, os saltos de um pensamento orientado em todas as direções, o tempo todo em luta contra a tirania e a nulidade das evidências, ávido de suas contradições e como que apavorado de chegar a um resultado.[24]
Sem muitos preconceitos, Fondane adotou Cioran como um “irmão mais novo”, ideologicamente perdido, da Romênia. Conhecia o seu passado político e os seus livros, e também sabia que Cioran o havia lido a sério, além da paixão comum por Chestov que os fez encontrar-se a partir de uma “revolta metafísica” comum e irreprimível. Quando, por exemplo, Cioran afirmou em A Transfiguração da Romênia que o povo judeu era “o único povo que não se sente preso à paisagem” – versão que modificará vinte anos depois em Un peuple de solitaires, escrevendo que o povo judeu é “o único a libertar-se da tirania da paisagem”[25] –, isto significa que o jovem filósofo foi um dos poucos e atentos leitores na Romênia a perceber a “novidade” do volume Privelişti, de Fundoianu, dentro da tradição nacional da poesia romena de tipo paisagístico.[26]
Fondane escreveu como introdução ao seu volume de poemas intitulado Vedute queste parole selvagge:
Poesia! Quanta esperança coloquei em ti! Quanta certeza cega, quanto messianismo! Eu realmente acreditava que tu podias libertar e responder lá onde a metafísica e a moral há muito fecharam as suas portas. Eu acreditava que foste a única e válida forma de conhecimento, a única razão de ser para perseverar no ser. Com uma lupa nos olhos, observei atentamente no poema as mil revoluções, as mil aberrações estelares. Só no poema o mundo irreal, pelo qual passamos como fantasmas, pareceu tomar forma, tornar-se matéria viva. Só no poema, fruto de prolongados cálculos e jogos de azar, o acaso foi reabsorvido como um fio numa ferida. O homem foi despojado do acaso, do capricho, da geração espontânea e projetou para fora de si um mundo visto sub specie aeterni. O paraíso terrestre estava na ideia. A ideia era o centro e o núcleo do poema.[27]
Cioran – relembrando esta passagem em que Fondane acena à ideia spinoziana de “perseverar no ser”,[28] na qual a potência do ser se efetiva na esperança do ser enquanto poesia, oração, grito – parece indicar a figura enigmática e sintética do seu encontro com o messianismo judaico de Fondane, assediado por uma ontologia negativa e ao mesmo tempo desejante, que tanto tinha “invejado” nos “judeus”,[29] ou seja, um messianismo laico de tipo existencial, muito semelhante ao de Walter Benjamin, em que perguntar é mais importante que responder, em que a angústia revela toda a experiência da abissalidade do desejo, além da qual não se pode ir senão através da utopia.
Ademais, Cioran descobre – sempre no dom da angústia oferecido pela figura exemplar de Fondane em Paris – que a presença primordial do desejo do Outro acaba por ser algo opaco, escuro, insustentável, onde o sujeito fica sem fuga, desprovido de meios, inerme. E também de Fondane, Cioran aprenderá que a angústia está estritamente ligada ao futuro, à existência humana aberta ao futuro, que é o horizonte de tempo em que a existência se realiza numa esperança remota, e no qual a angústia se transforma em experiência de um questionamento infinito.
Para além ou aquém da filosofia de Chestov ou de uma misteriosa eleição para a “catástrofe”, que está no cerne da experiência poética e filosófica de Fondane, a questão subjetiva de Cioran, que se desenrola no segredo do encontro com Fondane, foi senão esse movimento contínuo de re-subjetivação da “necessidade” do passado histórico individual em vista de uma nova “biografia”, de uma nova “língua”, ou seja, a eventualidade para o sujeito de desvelar na palavra um outro futuro seu, uma outra possibilidade sua através de um salto no desconhecido e um atestado existencial de exílio.
Este é o dom da palavra e da amizade, a partir de um espaço partilhado por várias vozes na terra comum do coração. Este é o mundo da criação e do testemunho através da poesia e do pensamento. Este é também o legado judaico-moldávio que Fondane pôde dar a Cioran após a cisura de Auschwitz: um futuro, um horizonte linguístico e de pensamento renovado aonde ir, a possibilidade de ainda desejar como movimento para conquistar uma nova língua e a possibilidade de subjetivar a dívida contraída com um fundo tão mítico quanto ancestral, em vista de uma transição final, ou seja, diante de um “nada” dito em uma outra língua e em um outro horizonte aberto às novas necessidades do pensamento.
ROTIROTI, Giovanni, “Fondane e Cioran: due scrittori di fronte alla ‘rivoluzione’ (postfazione)”. In: CIORAN, Emil, Al di là della filosofia: conversazioni su Benjamin Fondane. A cura di Antonio di Gennaro. Trad. de Irma Carannante. Milano: Mimesis, 2014, p. 83-106. Trad. do italiano de Rodrigo Menezes.
NOTAS:
[1] CIORAN, Emil, Il Nulla. Lettere a Marin Mincu (1987-1989), a cura di G. Rotiroti, Mimesis Edizioni, Milano-Udine, 2014, pp. 57-59.
[2] Cf. sobre este tema: ROTIROTI, Giovanni, «Il Salmo del lebbroso» di Benjamin Fondane, in «Orizzonti culturali Italo-Romeni / Orizonturi culturale Italo-Române», Rivista Interculturale bilingue, n. 4, aprile 2013, anno III <http://www.orizzonticulturali.it/it_poesia_Benjamin-Fondane.html>; CARANNANTE, Irma, «Forte come la morte è l’amore»: Amurgul Sulamitei tra Paul Celan e Benjamin Fondane, in Études romanes. Hommages offerts à Florica Dimitrescu et Alexandru Niculescu, 2 vol., a cura di Dan Octavian Cepraga, Coman Lupu, Lorenzo Renzi, Editura Universităţii din Bucureşti, Logos, Bucarest, 2013, pp. 152-167; VANHESE, G., La poésie française de Benjamin Fondane et l’écriture du désastre, in Études romanes. Hommages offerts à Florica Dimitrescu et Alexandru Niculescu, cit., pp. 783-794.
[3] Cf. VOLOVICI, Léon, Epilogul unei prietenii, «Apostrof», Cluj, 7-8, 2001, p. 24. Giovanni Rotiroti agradece a Marta Petreu por lhe ter fornecido a revista em que está contida, na página 23, a carta de Cioran datada de 7 de maio de 1946, endereçada à esposa de Fondane.
[4] CIORAN, E. M., “Benjamin Fondane”, Exercícios de admiração. Trad. de José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 2011, p. 122-123.
[5] TROST, Dolfi, “Cartea amăgirilor”, Cuvântul liber, 5 settembre 1936.
[6] Ibidem.
[7] Os artigos políticos “filo-hitleristas” de Cioran, publicados nos jornais da época, contèm frases como estas: “Não há homem político no mundo que me inspire mais simpatia e admiração que Hitler. Há algo de irresistível no destino desse homem, pelo qual todo ato da vida só ganha significado através da participação simbólica no destino histórico de uma nação. […] A mística do Führer na Alemanha è plenamente justificada. Os mesmos que creem ter-se apaixonado por Hitler, que pretendem odiá-lo, estão na verdade envoltos nas ondas dessa mística, que fez da personalidade de Hitler um mito. […] Hitler derramou uma paixão ardente nas lutas políticas e dinamizou, com um sopro messiânico, todo um sistema de valores que o racionalismo democrático havia tornado raso e trivial. Todos nós precisamos de uma mística, pois estamos fartos de tantas verdades que não explodem em chamas.” CIORAN, Emil, “Impresii din München. Hitler în conştiinţa germană”, Vremea, 15 de julho de 1934.
[8] FONDANE, Benjamin, “Apelul Studenţimi”, Viaţa Studenţească, Paris, 15 de dezembro de 1934.
[9] CIORAN, E. M., “Benjamin Fondane”, Exercícios de admiração, p. 124.
[10] CIORAN, Emil, “Spre o altă România”, Vremea, 17 de fevereiro de 1935.
[11] LUCA, Gherasim, “Infiltraţii”, Cuvântul liber, 23 de março de 1935. Cf. PETREU, M., De la Junimea la Noica. Studii de cultură românească. Iaşi-Bucureşti: Polirom, 2011, p. 245.
[12] Cf. SALAZAR-FERRER, O., Benjamin Fondane. Paris: Oxus, 2004, pp. 173-174.
[13] FONDANE, Benjamin, L’écrivain devant la révolution. Discours prononcé au Congrès International des écrivains de Paris (1935). Paris : Paris-Méditerranée, 1997, p. 105.
[14] Ivi, pp. 80-81.
[15] Ivi, p. 87.
[16] CIORAN, E. M., “Benjamin Fondane”, Exercícios de admiração, p. 123.
[17] CIORAN, Emil, Despre Franţa. Humanitas, Bucarest, 2011, p. 25.
[18] “O homem só pode criar se crer que é o centro da história. Não se trata aqui da inconsciência do burguês que, limitado pelo próprio horizonte, vive como se fosse a única realidade, mas da expansão do espírito que dilata o instante às dimensões da eternidade. Se não vives com o sentimento de que tudo o que se fez antes de ti foi feito para ti, e que és uma encruzilhada singular na história, se não sentes que o devir te invoca e que o momento de tua existência é um absoluto, algo de insubstituível e de único, então passarás de um vaga-lume ao sol, um brilho invisível, uma opacidade de luz. Somente se o eixo do mundo perfurar teu coração, podes te tornar um mundo. Gostaria que as últimas reservas de humildade desaparecessem do sangue desta nação. Se não tivermos força e orgulho suficientes para compensá-la desde o núcleo da existência, faremos a teoria da Romênia em vão. Aqui não quero descrever a miséria histórica de um país como se fosse um objeto de curiosidade. Não posso fazer ciência sobre meu próprio destino. Se os defeitos da Romênia, encontrados aqui, com a paixão e os arrependimentos de um amor desesperado, fossem eternos e irremediáveis, este país não me interessaria em nada e pareceria estúpido escrever um livro de fatos sem uma visão de reforma.” CIORAN, Schimbarea la faţă a României. Bucarest: Humanitas, 1990, pp. 98-99. Breve nota: é curioso como a expressão “se o eixo do mundo te atravessar o coração” parece ecoar este verso de Fondane: « L’axe du monde passe par tes hanches », citado por Ilarie Voronca ao início de Colomba (1927).
[19] Como Cioran também disse em uma entrevista: “Foi assim que as coisas aconteceram. No início, Nae Ionescu era a figura mais influente junto ao rei. Em algum momento, não sei por que, eles romperam. Desde então, Nae Ionescu não teve outra ideia em mente: vingar-se. Antes de ser político, a natureza desse compromisso era pessoal. Mas se o seu jogo político tinha como objetivo final a vingança, o certo é que nos arrastou para a sua aventura pessoal”. LIICEANU, Gabriel, Itinéraires d’une vie: E.M. Cioran suivi de Les continentes de l’insomnie. Entretien avec E.M. Cioran. Paris: Michalon, Paris, 1995, pp. 100-101.
[20] “O encanto exercido pela existência de Nae Ionescu tem, no entanto, uma base mais profunda e paradoxal. Juntamente com essa tendência de te perder nele, de deslizar para todos os seus conflitos, nunca conheci outro homem que pudesse obrigar-te a ser ti mesmo. […] Em Berlim, quando tive o desgosto da história e do conhecimento, pensei em escrever uma tese de doutorado que tivesse como tema as lágrimas. Conversei sobre isso com muitos amigos e concordamos que o único professor do mundo que aceitaria essa tese seria Nae Ionescu. Paradoxalmente, você pergunta? Não, por tragédia e lucidez.” CIORAN, Emil, “Nae Ionescu şi drama lucidităţii”, Vremea, 6 de junho de 1937.
[21] Cf. ROTIROTI, Giovanni, Il demone della lucidità. Il «caso Cioran» tra psicanalisi e filosofia. Rubbettino, Soveria Mannelli, 2005, pp. 67-74.
[22] CIORAN, E. M., “Benjamin Fondane”, Exercícios de admiração, p. 123.
[23] Ibid., p. 124.
[24] Ibid., p. 125.
[25] Cf. PETREU, Marta, Cioran sau un trecut deocheat. Iaşi-Bucureşti: Polirom, 2011, pp. 187-212. Sobre a “transformação profunda” operada em Cioran a partir do encontro com Fondane, em Paris, cf. M. Finkenthal, “O întîlnire în Parisul ocupat”, Apostrof, cit., p. 26.
[26] De fato, na coletânea de poemas intitulada Vedute, o discurso poético de Fundoianu vai na direção oposta, como Cioran havia notado implicitamente, à do tradicionalismo paisagístico de tipo nacional, em particular da Transilvânia, como o de Goga ou do próprio Blaga. A poesia de Fondane é insensível, por exemplo, em relação à poesia de Blaga, com a qual pode ser comparada, à influência metafísica que emerge do ambiente rural ou da matriz mítica de um “espaço miorítico”, expressão de um horizonte espacial inconsciente com acentos espirituais específicos da arte popular e da poesia romenas. As vistas de Fundoianu são apenas aparentemente rurais ou bucólicas, e não apenas relacionadas com a paisagem moldava ou romena em um sentido realista e descritivo. Na verdade, Privelişti traz principalmente um estado de angústia inominável, calamidade, desolação, tédio e tristeza profunda. Raramente combinam com a identificação da paisagem rural “ondulante”, “harmoniosa” que termina na “solenidade” ou na “beleza” tradicionalmente salvaguardada pela marca mítica e selo natural do genius loci da Romênia. Em Privelişti o eu poético de Fundoianu não se impõe, mas se expõe como em uma oração que exige atenção, meditação e concentração. O poeta canta biblicamente sobre a solidão e a desorientação no quadro de uma paisagem romena feita de terra preta, bosques, bisões ou búfalos moldavos e luzes ao entardecer. A voz “hebraica” de Fundoianu é um lembrete de memória e devoção a uma paisagem completamente internalizada. Não é o espaço ondulado perceptivelmente reconhecível da Romênia. Essas Vedute expressam fundamentalmente a solidão, a devastação, a catástrofe iminente, buscando converter o sentimento do eu às suas próprias raízes e origens culturais, no judaísmo hassídico.
[27] FUNDOIANU, Benjamin, Vedute. Poesie 1917-1923. A cura di G. Rotiroti e I. Carannante. Novi Ligure (AL): Edizioni Joker, 2014, p. 9.
[28] “A ideia de ‘perseverar no ser’ foi concebida pelo maior dos seus filósofos; esse ser, conquistaram-no eles numa imensa luta. Compreendemos mal a sua obsessão do projecto: ao presente que nos verga, eles opõem as virtudes afrodisíacas do amanhã. O futuro: foi também um dos deles que o tornou a ideia central da sua filosofia. Não há qualquer contradição entre as duas ideias, porque o futuro remete para o ser que projecta e se projecta, para o ser desintegrado pela esperança.” CIORAN, E. M., “Um povo de solitários”, A Tentação de existir. Trad. de Miguel Serras Pereira e Ana Luisa Faria. Lisboa: Relógio D’Água, 1988, p. 65.
[29] «Ho sempre ammirato gli Ebrei ma allo stesso tempo li invidiavo per avere un destino, cioè nel senso positivo, mentre il fatto di nascere è sinonimo di fallimento» [Sempre admirei os judeus, mas ao mesmo tempo os invejei por terem um destino, isto é, no sentido positivo, enquanto o fato de nascer é sinônimo de fracasso.] CIORAN, Emil, Il Nulla, cit., p. 55.
[…] a descrição de uma experiência, de amarga decepção, que Cioran conheceu muito bem na transição entre os anos romenos e a […]
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[…] Giovanni Rotiroti, a desilusão de Cioran em relação às suas crenças e esperanças utópicas de outrora começam […]
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